domingo, 31 de março de 2019

EDUCAÇÃO 4.0: O QUE DEVEMOS ESPERAR

Não tem mais volta, a educação 4.0 chegou! O termo está ligado à revolução tecnológica que inclui linguagem computacional, inteligência artificial, Internet das coisas (IoT) e contempla o learning by doing que traduzindo para o português é aprender por meio da experimentação, projetos, vivências e mão na massa.
Não existe um modelo pronto para aplicar e todos podemos (e devemos) contribuir, quebrando velhos paradigmas de anos impostos em uma educação descontextualizada, pautada em transmissão de conhecimento e ambientes pouco propícios ao processo de aprendizagem. Para muitos educadores ligados ao tema, o modelo pautado na cultura maker – do faça você mesmo – é um dos caminhos.
Para discutir esses modelos e desafios aconteceu em Manaus o Hackathon Desafio “Educação 4.0: transformando a experiência de aprendizagem por meio da tecnologia”, organizado pelo Instituto CERTI Amazonas, com apoio da Positivo Tecnologia. A proposta do evento foi juntar estudantes da educação básica, universitários e professores do Estado do Amazonas para que pensassem coletivamente na educação e como transformar a experiência de aprendizagem por meio da tecnologia. Ao lidar com questões de Matemática, Língua Portuguesa, Geografia e temas contemporâneos, como economia de água, energia, meio ambiente e inclusão, as equipes empregaram linguagem de programação e os recursos da placa Micro:bit, desenvolvida pela BBC, que é um computador de placa única, com processador Arm, que estará disponível em breve no Brasil.
Um dos idealizadores da placa é Howard Back, chefe de pesquisa acadêmica e de marketing/público da Fundação Educacional Micro:bit., que partiu da proposta de tornar cada criança um construtor, não se limitando ao aprendizado da sala e aula.
Participei como convidada e mentora desse evento e em minhas conversas com especialistas brasileiros e Internacionais, propostas como o compartilhamento de vivências, a quebra dos modelos atuais de educação e investir na formação de professores ganharam relevância.
O curador do evento, Oscar Burd, especialista em soluções estratégicas de TI e presidente da Success Tecnologia e Energia, defende que as tecnologias devem revolucionar a educação do mesmo modo que revolucionaram a sociedade e nossas vidas cotidianas. Com isso, não são apenas ferramentas, mas igualmente agentes de transformação. "O aluno passa a ser ouvido e é parte atuante vital dos processos educacionais", diz. "Ele sai da passividade e aprende a virar ator. Neste sentido tem que ser ouvido e compreendido desde o início".
Cecília Waismann, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento no MindCET EdTech Innovation Centre, que reúne educadores, pesquisadores, estudantes e empresários para acelerar a inovação, enfatizou que é necessário haver uma ruptura conceitual. Segundo ela, não dá mais para esperar que as escolas façam algo, é necessário que educadores e especialistas discutam esse modelo, além de promover a criação de novos espaços e oportunidades para essa aprendizagem.
No Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o grupo de trabalho Lifelong Kindergarten (Jardim de infância continuado) foi idealizado para pensar a educação pautada no brincar a fim de explorar novos modelos, buscando soluções com uso de tecnologia e diversos materiais estruturados ou não.
O pesquisador do Media Lab do MIT, Leo Burd, defende uma aprendizagem baseada no concreto, compartilhando trabalhos e experiências, respeitando o ambiente e promovendo interação social. Para ele, permitir o erro é positivo no processo de aprendizagem. Esse modelo está sendo levado a escolas públicas brasileiras, através de uma rede brasileira de aprendizagem criativa, com intuito de promover trocas e encontros para formação docente. “Precisamos de gente inovadora que saiba usar os recursos que temos de forma criativa, consciente e colaborativa”, diz Burd.
O que devemos esperar da educação 4.0?
José Armando Valente, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), aponta que apesar de vivermos na era digital e de fazer uso de tecnologias diversas em nosso dia a dia, esse mundo não está integrado à escola. “É necessário integrar tecnologia ao currículo, explorar seu potencial e promover a conversa com as áreas de conhecimento”, afirma.
Segundo Valente, o currículo do sucesso passa a explorar metodologias ativas ao trabalhar com projetos, investigação, resoluções de problemas, produções de narrativas digitais e desenvolvimento de atividades maker, transformando as ferramentas digitais em linguagem. Mas admite que não há um único modelo a seguir. “Não devemos esperar algo pronto, o processo da Educação 4.0 está em criação”, diz.
Estamos vivendo uma revolução na educação, em que constantemente os jovens têm nos cobrando por isso. Ezequiel Menta, Diretor de Políticas e Tecnologias Educacionais da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, afirma que é preciso repensar as ferramentas existentes, criando também possibilidades offline para que as escolas possam se apropriar da tecnologia existente, adaptando a realidade das unidades.
Essa imersão em educação e tecnologia deixou claro que é possível realizar uma educação regrada em criatividade e inventividade, usando vários recursos e contando com um ambiente baseado em experimentação com o aluno no centro do processo de aprendizagem. Equipamentos são importantes, mas é fundamental que venham acompanhados de práticas pedagógicas que possibilitam vivências significativas, respeitando docentes e alunos.
Em tempo: entre as equipes do Hackathon Manaus, três venceram o desafio e foram premiadas. Na verdade, todos vencemos, ao ter a possibilidade de aprender com o processo, trazendo novas narrativas para a educação.
Convido você, querido professor, a participar desse debate e dessa proposta, incorporando ferramentas digitais ao seu cotidiano e promovendo a revolução em sua sala de aula.
Um grande abraço e até a próxima!
FONTE: Nova Escola

sábado, 30 de março de 2019

QUE HABILIDADES DEVE TER O PROFESSOR DA EDUCAÇÃO 4.0

Disponibilizar recursos e tecnologias não é garantia de que o aluno vai aprender; para isso, o professor deve ser mediador e colaborador

Estamos vivendo um momento de grandes mudanças com o avanço da Inteligência Artificial (AI), Internet das Coisas (IoT), robótica e programação que têm aberto novos caminhos e perspectivas para o desenvolvimento de uma aprendizagem dinâmica. Da mesma forma, com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), fica determinado que as tecnologias são competência de ensino. E os professores, como ficam nessa história?
A formação dos professores é essencial para acompanhar tamanha maré de desenvolvimento. As políticas públicas deverão dar suporte para que isso ocorra, repensando o processo educacional e permitindo que criatividade e inventividade invadam as salas de aula. Com a inclusão de ferramentas digitais, o poder público precisa entender a prática docente como uma atividade transformadora cujo papel é mediar o conhecimento.
Por outro lado, é preciso que os docentes renovem suas práticas pedagógicas. Como? O professor deve ter o olhar para essa revolução, estimulando múltiplas redes de aprendizagem, permitindo uma gama de associações e de significações entre a escola e a comunidade do entorno.
Ainda que as transformações não ocorram na mesma velocidade na Educação, já é possível perceber avanços como no learning by doing, em que o aprendizado segue na mesma linha dos espaços makers – priorizando uma educação através da vivência e experimentação, resgatando o conceito de jardim da infância.
A participação efetiva de todos os atores, a fim de que a prática educativa seja revitalizada, permitindo interação e ampliação desse ambiente de aprendizagem vai contribuir para o desenvolvimento intelectual do aluno. O professor deverá ter um olhar mais profundo sobre as diferentes práticas adotadas, para garantir que o aluno seja o eixo central do processo de aprendizagem. 
Tá dominadoPara Marta Relvas, doutora em Psicanálise e membro efetiva da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, “a sala de aula passa a ser considerada o ambiente para aquisição dessas novas possibilidades tecnológicas, por meio das metodologias ativas e híbridas”. “O professor deixa de ser o detentor do saber e torna-se um colaborador da aprendizagem discente, necessitando o conhecimento de aplicativos básicos eletrônicos para ser capaz de exercer sua função”, afirma. Marta ressalta ainda que o professor também tem que dominar e usar computadores, projetores de multimídias, quadros interativos, tablets, smartphones e outros equipamentos tecnológicos tanto no seu dia a dia para estudar, quanto no processo de interação dos conteúdos das aulas. 
Nessa interação, o contato com o outro será a porta de entrada para que os alunos possam construir, descontruir e reconstruir a aprendizagem, numa espiral de conhecimento, seja com o objeto de estudo ou como o exercício da docência. A mediação pedagógica assume novo enfoque, no qual o professor exerce o papel de orientador e incentivador – tornando-se parceiro do aluno e instigando-o a compartilhar e refletir. Os desafios são grandes nessa troca e o uso de metodologias ativas se torna essencial na de resolução de problemas.
É importante deixar claro que disponibilizar altos recursos tecnológicos e ambientes virtuais de aprendizagem não garantem aos alunos uma aprendizagem efetiva. Para que tenhamos apropriação de conhecimento no processo de aprendizagem, devemos olhar para a educação integral, mediada pelo professor e pautada por uma aprendizagem rica em experimentação, envolvente e significativa. Nesse contexto, as relações socioemocionais e interpessoais possibilitarão a elaboração e reelaboração por parte de professores e alunos. Ao redefinir o papel do professor, o sucesso dos processos educacionais repousa no trabalho colaborativo e com direito à experimentação.
Para Marta Relvas, ao utilizar ferramentas tecnológicas, o professor consegue ativar o cérebro do estudante por meio de “rotas alternativas” para produção de novas conexões neuronais e aquisição do aprendizado. O ato de fazer estabelece e fortalece as interligações neurais, formando o que a neurobiologia denomina de “teia neuronal”. Em seus estudos, Marta diz que as células neuroglias são as responsáveis por esse “mosaico e citoarquitetura” do potencial de ação entre as sinapses elétricas e químicas dos neurônios da atenção e da memória, conhecidas como funções executivas e cognitivas do aprendizado. Evidências revelam por meio das neuroimagens que as metodologias ativas estimulam a base da ativação do sistema de recompensa, do interesse e prazer. Com as evidências científicas em relação aos processos da aquisição do aprendizado, educar torna-se uma tarefa complexa e que requer de seus educadores a competência e a dedicação nas práxis pedagógicas. “O maior desafio, no entanto, é planejar uma educação capaz de preparar o docente, o educando e a família para essas transformações, onde o estudante assume o protagonismo do aprendizado escolar”, afirma a professora Marta.  
O professor 4.0 deve ter percepção e flexibilidade para assumir diferentes papeis: aprendiz, mediador, orientador e pesquisador na busca de novas práticas. Ele deverá criar circunstâncias propícias às exigências desse novo ambiente de aprendizagem, assim como propor e mediar ações que levem à aprendizagem do aluno. Para isso, é preciso ter metas e objetivos bem definidos, entendendo o contexto histórico social dos alunos e as dificuldades do processo.
Citando novamente Marta Relvas, “a neurociência pode contribuir para a ação pedagógica por compreender as estruturas e o funcionamento do sistema nervoso central”. “A didática é a ciência que reconhece as metodologias e as abordagens da sistematização dos conteúdos acadêmicos escolares, e a tecnologia vem como ferramenta que permeia e ativa as curiosidades no sistema de recompensa cerebral. Portanto, pode-se considerar, que uma ciência complementa a outra e devem ser utilizadas como proposta para delinear a escola mais humanizadora que queremos para o futuro que já chegou”.
É preciso explorar os novos recursos e ferramentas, mediando o espaço entre o aluno e a informação, de forma participativa e interativa, próxima da realidade no processo de construção e reconstrução do seu conhecimento ao trabalhar com as diversas facetas do processo de aprendizagem. Porque, sim, o futuro já chegou.
E você, querido professor, como tem percebido estas mudanças na sua sala de aula?  Conte aqui nos comentários.

Um abraço,
FONTE: Nova Escola

sexta-feira, 29 de março de 2019

8 PASSOS PARA LEVAR FERRAMENTAS DIGITAIS PARA SALA DE AULA

Em nosso cotidiano, convivemos com a tecnologia nas atividades mais rotineiras, como usar um aplicativo de banco para pagar uma conta via celular ou enviar uma mensagem pelo WhatsApp. Essa mesma facilidade no uso de tecnologias deveria ser abraçada pela escola e pelos professores, que poderiam então fazer uso de ferramentas digitais em suas aulas.
Para isso é necessário vencer algumas barreiras, como ausência de infraestrutura, conectividade e formação docente. Muitos professores sentem dificuldade em lidar com programas e ferramentas, pois só tiveram contato com tais tecnologias em sua fase adulta – bem diferente dos nossos alunos, que nasceram na era tecnológica e estão familiarizados com elas.
Recentemente, uma iniciativa do movimento Todos Pela Educação, em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Instituto Natura, Itaú BBA, Fundação Telefônica Vivo e Samsung foi saber o que pensam os professores brasileiros sobre o uso da tecnologia digital em sala de aula. Apesar das dificuldades com falta de recursos e equipamentos, eles foram unânimes em dizer que as tecnologias contribuem para o processo de ensino e aprendizagem e que para avançar o processo de introdução em sala de aula é necessário que as políticas públicas priorizem alguns pontos:
  • Ofertar melhores oportunidades de formação docente
  • Assegurar uma melhor infraestrutura física
  • Promover soluções tecnológicas que levem a rotina escolar e os desafios do dia-a-dia.
Esse é um assunto que gera muito debate. Em NOVA ESCOLA, muitos educadores já se manifestaram para enumerar as dificuldades em utilizar meios digitais de forma efetiva em sala de aula.
Compartilho desses desafios e acredito que este é o maior entrave para que os avanços destas ferramentas sejam incluídos no dia a dia escolar.
Com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular, BNCC, que traz o uso das tecnologias como uma das competências de ensino, estamos próximos de garantir recursos necessários, principalmente formação para que professores estreitem os laços com as tecnologias. Mas é possível? Eu acredito que sim e a seguir enumero oito passos para agregar essas ferramentas na sala de aula:

Conheça
Compreenda recursos e softwares que podem ser incorporados a sua rotina escola. Google Drive e Google Sala de Aula são gerenciadores que permitem realizar trabalhos colaborativos, permitindo que vários documentos possam ser vistos e comentados por um grupo – com acesso inclusive por celular. É possível gerenciar pesquisas e aplicar avaliações tornando as aulas mais atrativas e dinâmicas.

Explore
Muitas ferramentas digitais promovem novas formas de realizar uma prática pedagógica e explorar habilidades e competências diversas.
Produção de vídeos, fotos, podcasts, slides e blogs. São ferramentas que podem ser usadas pelo celular, computador ou tablet e que enriquecem as aulas – por permitir dinamismo e também vivência. Uma aula pode ganhar muito com exibição de vídeos curtos ou fotos feitas pelos próprios alunos.

Planeje
Projete atividades em que a experimentação da aprendizagem esteja presente, valorizando o aluno no centro do processo de ensino e fazendo do professor o mediador dessa construção. Que tal criar um espaço maker, com materiais que são reaproveitados? Ao estabelecer espaços colaborativos dentro da sala de aula, o aluno pode inventar, criar e usar recursos diferentes para a resolução de problemas. Para criar um espaço maker, você precisará de algumas ferramentas, como chave de fenda, ferro de solda, tesoura, canetas, uma mesa, materiais de sucata e muita mão na massa para criar junto aos alunos.

Insira
O foco da educação hoje está no desenvolvimento de competências e habilidades. Aproveite para inserir as redes sociais em suas aulas, expandindo o aprendizado e dando espaço a um ensino mais personalizado. Edmodo, Blogger, Twitter e Instagram são redes sociais que permitem interação, personalização e a possibilidade de realizar trabalhos que expressem mais a vivência e a visão do aluno.

Incentive
Use e abuse das ferramentas de pesquisa na Internet. Nossos alunos necessitam de orientação em relação ao uso, como símbolos e palavras chaves. Indique bibliografias e sites úteis para que desenvolvam trabalhos com informação de qualidade e confiabilidade. Aproveite para abordar ainda assuntos como Segurança da Internet e Cyberbullying.

Crie
Estimule o contato com softwares (programas) autorais e a produção de trabalhos colaborativos. Movie MakerAudacity e Gimp são exemplos de programas que permitem realizar diversos tipos de trabalho, além de serem gratuitos.

Estimule
Traga o mundo imaginário dos alunos para a sala de aula, propiciando a produção de games e estimulando o raciocínio lógico, com o uso de softwares de programação. O Scratch é um programa recomendável e pode ser trabalhado de forma offline.

Compartilhe
Propicie momentos para compartilhar as atividades realizadas, incentivando os alunos a produzir seus próprios textos em formatos distintos. Eles poderão criar textos a partir das pesquisas realizadas na internet e em outras mídias e você pode ensiná-los a mencionar de maneira correta o crédito de autores e fontes pesquisadas.
As ferramentas digitais podem ser usadas como um grande propulsor à inovação, criatividade e inventividade por meio da experimentação – dando aos alunos a oportunidade de serem protagonistas, autorais e construtores da sua própria aprendizagem.
Muitas ferramentas acima, oferecem oportunidade de compartilhar os seus trabalhos, então aproveite ainda esses recursos para mostrar sua experiência a outros professores.
E você, querido professor, como costuma inserir ferramentas digitais em suas aulas? Conte aqui nos comentários! Vamos aproveitar esse espaço oferecido pela Nova Escola para compartilhar experiências e práticas docentes.  
Um abraço,
FONTE: Nova Escola

quinta-feira, 28 de março de 2019

LETRAMENTO MIDIÁTICO NOS AJUDA A CONECTAR COM O MUNDO

A educadora norte-americana Renee Hobbs defende que professores compreendam melhor como usar diferentes mídias em suas aulas para benefício dos alunos

Renee Hobbs é uma formadora de formadores. Ao citar as experiências de seus alunos – graduandos e professores na Escola de Comunicação e Mídia Harrington na Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos – ela se entusiasma como se estivesse falando de crianças que estão aprendendo a ler e escrever. A diferença está no grau de complexidade: uma das tarefas que passou aos professores incluía assinalar e destacar os pontos principais de um texto, analisar o ponto de vista do autor e opinar sobre aquele assunto. Dissertação? Nada disso: três tweets de 280 caracteres, como manda a plataforma. “É um ótimo exercício para professores porque o Twitter te obriga a ser conciso, então te torna um comunicador melhor”, afirma Renee.
Desafios de expressão de ideias nas mais variadas plataformas e mídias compõem a carreira de Renee. Na primeira metade dos anos 1990, a educadora norte-americana criou o primeiro curso de letramento midiático e informacional (media literacy, em inglês) na Universidade de Harvard. Desde então ela escreveu livros que se tornaram referência no tema, como “Discover Media Literacy”, “Copyright Clarity” e “Create to Learn”, este último lançado no ano passado. Com Julie Coiro, ela criou um curso de graduação em alfabetização digital que está aberto não apenas a universitários, mas também alunos do Ensino Médio. Como pesquisadora, ela assinou mais de 100 artigos em publicações especializadas, um dos mais recentes na revista espanhola Comunicar. Ela é fundadora também do Education Media Lab, que oferece treinamento sobre letramento midiático e workshops para escolas e organizações.
Com toda sua experiência nessa área, Renee não enxerga o fenômeno das notícias falsas (fake news) como o “fim do mundo” e discorda daqueles que afirmam que não há salvação para esse mal. Segundo ela, o leitor deve buscar fontes variadas de informação para entender o que está acontecendo – não apenas a grande imprensa. “Não se deve construir hierarquias porque, veja só, fontes diferentes de notícias são boas para diferentes necessidades”, afirma. O importante, enfatiza, é garantir que as decisões tomadas sejam sempre baseadas em boas informações.
Renee Hobbs conversou com NOVA ESCOLA sobre as possibilidades da alfabetização midiática e seu poder transformador na educação. A seguir, veja os principais momentos da entrevista.
Em que ponto estamos hoje do processo de letramento midiáticp e informacional? Já dominamos e filtramos a informação que chega via internet, TV, jornais da melhor maneira ou apenas consumimos o que aparece pela frente?Alfabetização midiática não é uma propriedade que alguém pode ou não ter, algo como eu tenho e você, não. É um processo, um hábito que nossa mente desenvolve e que está enraizado na sociedade de informação. Nós temos vivido em uma sociedade de informação por muito tempo, o que traz muitas escolhas. Os critérios para essas escolhas variam bastante. Muitas pessoas buscam conhecimento para se manterem informadas, outras procuram entretenimento para se divertir e há pessoas que estão usando persuasão para influenciar a opinião alheia. Essa explosão de escolhas nos leva a escolhas complexas – e os seres humanos não gostam de complexidade. Se há um atalho, nós tomamos, se nos oferecem uma resposta simples, nós aceitamos. Diante de tamanho volume de informação, nós buscamos formas de reduzir a complexidade. Procuramos respostas simples e, nesse momento, há pessoas que estão usando a informação como uma arma para persuadir outras pessoas. Eles estão prontos para agir e criar uma polarização ainda maior.
Há meios de escapar da armadilha da simplificação?O processo de alfabetização midiática oferece uma série de ferramentas para nos protegermos contra essa tendência de super simplificação ou deixarmos que nossas emoções interfiram em todas as decisões que tomamos. Eu diria que nos Estados Unidos, cerca de 30% a 40% das crianças no ciclo básico foram expostas a alguma forma de alfabetização midiática no contexto do aprendizado em sala de aula. Então ainda temos um caminho pela frente, mas avançamos em muitos pontos.
Em seu seu trabalho no Media Education Lab, você cita que o aprendizado midiático envolve habilidades de acesso (audição, leitura, compreensão), análise, colaboração criativa, além de reflexão. Qual dessas habilidades se mostra mais difícil no aprendizado do letramento midiático? Reflexão é muito difícil. As pessoas pensam no ato de refletir como algo muito individual, por exemplo, eu estou sentada no meu escritório, refletindo, tendo grandes ideias e coçando minha barba (risos). Isso não é refletir. Reflexão é um diálogo, uma prática social. A reflexão acontece quando vamos ao cinema, assistimos ao fime e na saída eu te pergunto o que você achou. Eu digo: “Eu gostei do filme porque ele toca em questões sobre a minha geração, renascimento e me conecta com seus ancestrais”. Através deste diálogo, eu começo a entender qual o sentido que o filme tem para mim. E isso não é algo fácil de fazer porque muitas vezes você vai ao cinema com os amigos e ao final ninguém fala sobre o que assistiu porque todos estão cansados e só querem ir para casa ou preferem ir para o bar.
É correto dizer então que está nos faltando aquele momento em que pensamos sobre o que lemos ou vimos e depois expressamos essas ideias nas conversas com outras pessoas.Isso mesmo. Quando você consegue compartilhar seus pensamentos com outra pessoa que passou pelo mesmo processo, então você reflete sobre suas próprias ideias de maneira mais completa. E para melhorar esse processo, somente com prática. Nas minhas aulas, eu percebi que criar é muito fácil para mim, mas pode ser muito difícil para algumas pessoas. Eu dou aula para professores do ciclo básico e eles me dizem que têm muito receio de atividades criativas. Em sua formação, eles foram ensinados a ser bons profissionais, só que o ato de criar é uma bagunça. Vocês, jornalistas, estão acostumados a criar textos em um padrão muito alto e nós, amadores, não temos como competir. Eu acredito que as pessoas precisam tomar para si esse poder da comunicação e criar suas próprias mensagens. Hoje, nós vemos isso emergindo porque as pessoas estão usando plataformas como o Facebook para criar suas mensagens e leva-las a um público muito maior do que o grupo de amigos. Eles estão se arriscando. Os professores precisam dizer que há riscos quando alguém coloca sua voz na arena pública, as pessoas podem aplaudir, mas também podem te criticar.
Mas o fato de que mais gente está se expressando de forma pública é positivo, principalmente para os jovens.Sim, com certeza. O letramento midiático enfatiza a ideia de que as crianças podem aprender a expressar suas opiniões de maneira pública desde a infância. Se uma geração de crianças tiver esse letramento como parte de seu aprendizado e praticar com frequência, elas terão menos receio e se sentirão mais seguras a participar do processo democrático.
Como garantir que estamos dando todas as informações necessárias para que os alunos expressem seu conhecimento em diferentes disciplinas, durante todo o ciclo básico? Esse é o tópico do meu novo livro, Create to Learn (Criar para Aprender, não traduzido para o português). Eu te faço uma pergunta: qual é a melhor maneira de avaliar se um aluno realmente aprendeu algo em qualquer disciplina? Dar a ele um teste de múltipla escolha ou fazer com que ele escreva uma dissertação sobre o assunto? Claro que é a dissertação porque ali ele tem chance de criar alguma coisa. Ao escrever você demonstra sua compreensão de uma forma infinitamente melhor do que ter de preencher um questionário. Isso é algo que os professores sempre souberam e por isso a maioria prefere as dissertações – elas nos oferecem o que está na mente daquele aluno. E você não tem como enganar em uma dissertação. É mais difícil de corrigir, mas é um método bem superior.
Agora, há versões da dissertação que podem ser muito poderosas e que não precisam ter o formato convencional. Por exemplo: fazer uma apresentação em PowerPoint que usa imagens e textos para mostrar que você compreendeu a ideia principal. Você também pode gravar um podcast de dez minutos explicando o tema com suas próprias palavras. Eu faço com que meus graduandos façam uma dissertação em três tweets. Para isso, eles precisam resumir, depois analisar e identificar o ponto de vista do autor. A partir do texto que leram, eles fazem um tweet sobre o assunto principal, o segundo em que mostram que entenderam a visão do autor e o terceiro, em que dão sua opinião. A escolha pela plataforma do Twitter os obriga a serem concisos. E isso os ajuda a se tornarem comunicadores melhores.
E essa dissertação poderia fazer uso de outras mídias.Há nove formas diferentes que poderiam ser usadas, assim como o texto dissertativo: alunos podem criar um website, um blog, um vídeo, um podcast, fazer uma imagem, infográfico, vlog, animação, uma produção remix. Os textos também são válidos, meus alunos criam formas alternativas, mas continuam escrevendo suas teses acadêmicas. Essa geração cresceu vendo e usando imagens para se comunicar, é uma linguagem muito fácil para eles. A criação de uma nova mídia funciona como um rascunho para o texto e, com isso, eles vão escrever dissertações melhores porque exercitaram sua criatividade no processo de expressar suas ideias naquele formato.
Você disse que esse aprendizado pode começar nos anos iniciais da escola. Pode me dar um exemplo?Essa abordagem funciona maravilhosamente nos primeiros anos do Fundamental. O professor pode pedir aos alunos para criar um vídeo explicativo, desses que vemos direto no YouTube. São vídeos que ensinam a fazer algo ou explicam um determinado assunto: como consertar a máquina de lavar, como construir legos, etc. O professor pode dizer às crianças: “Vamos fazer um vídeo do tipo ‘como fazer’”. Os alunos podem ter muitas ideias e concluir que devem fazer um vídeo sobre como tomar conta de um animal de estimação. As crianças vão trabalhar de maneira colaborativa, cada um cuidando de uma parte, um como apresentador, outro atrás da câmera, outro na produção. Elas vão criar um roteiro, planejar o que vai aparecer em cada cena e têm que trazer objetos para compor as imagens, por exemplo, como gatos e cachorros vão ao banheiro. E como eles não podem mostrar a coisa de verdade (risos), eles têm que descobrir outras maneiras de representar isso. Dessa forma, eles desenvolvem habilidades sofisticadas de pensamento crítico. Essa é uma experiência de aprendizado muito mais transformadora do que a simples aula expositiva.
Ao trabalhar de maneira colaborativa, esses alunos também vão exercitar e desenvolver habilidades socioemocionais. Você acredita que esse aprendizado é essencial no currículo e deveria constar da formação dos professores ou basta incluir atividades como essa em sala de aula para dar conta?Da forma como você coloca isso me lembra o trabalho de Paulo Freire. Todas as ideias de alfabetização midiática têm raízes no momento em que educadores norte-americanos tomaram conhecimento do trabalho de Paulo Freire no Brasil, nos anos 1970. Ele reconheceu que nós não poderíamos pensar em termos de educação como um modelo bancário, movendo as propriedades intelectuais de uma cabeça para outra através de aulas. Essa é uma ideia estúpida, que funciona para uma minoria, em geral elites, e é um desserviço para todos os outros. Dessa forma, ele traz um aprendizado baseado na comunidade colaborativa e considera habilidades socioemocionais. Isso é transformador. Então, eu sinto que a única maneira de os professores compreenderem essa pedagogia é experimentando na prática, como se fossem alunos. É por isso que eu peço uma criação conjunta de mídia dos meus alunos professores. Para os meus graduandos, o projeto era escolher uma mídia e criar algo que representasse seu aprendizado. O truque é que a colaboração entre eles deveria ser feita de maneira completamente digital (risos). Isso quer dizer que os professores e alunos nunca se encontrariam na mesma sala, era tudo online. Não é demais? Colaboração não precisa ser cara a cara, pode ser online porque hoje temos essas grandes ferramentas que nos permitem comunicar e colaborar, como conversas por vídeo e Google Doc, em que podemos escrever de maneira conjunta e elaborar projetos criativos incríveis. O que mais me deixa animada é que isso pode ser feito entre professores de todas as regiões do país, explorando sua compreensão de si mesmos como cidadãos do mundo.
E ao ter o sentimento de pertencer ao mundo, eles desenvolvem interesse pelo que acontece do outro lado do planeta e refletem sobre diferenças culturais e sociais, como acontece agora com o Movimento pelos Direitos das Mulheres. Você acha que mudanças como essa devem vir de cima para baixo ou devem ser produzidas primeiro na base e ganhar legitimidade até chegar às instâncias superiores?Eu sou uma grande apoiadora do movimento de baixo para cima. Quando comecei a dar aulas para professores sobre educação midiática no Harvard Institute, em 1993, foi o primeiro programa do tipo para professores no país. As pessoas não tinham ideia do que significava educação midiática. Éramos 100 professores na sala, sem apoio do Ministério da Educação, do Departamento de Estado da Educação, de nenhum superintendente ou diretor. Os professores vieram por conta própria, por serem apaixonados pelo que faziam e por sentirem que esse conhecimento era importante para seus alunos. Como o sistema educacional americano é descentralizado, ainda hoje não temos uma política federal e apenas alguns estados estabeleceram o ensino de letramento midiático. O que nós conquistamos em termos de currículo foi fruto do trabalho que os professores fizeram lá atrás, convencendo seus diretores e superintendentes de que isso era importante e teria um grande impacto nas escolas.
Então eu acredito que professores podem e devem se engajar em um movimento de baixo para cima. Mas essa é a experiência nos EUA. Na Europa, há pessoas que incentivam uma política de cima para baixo, colocando o letramento midiático na agenda e apoiando financeiramente iniciativas. Qual desses métodos você acha que daria mais certo no Brasil?
Aqui no Brasil, em geral as coisas acontecem de cima para baixo, mas eu acredito que seria muito bom se os professores se sentissem mais empoderados para que o aprendizado contemplasse o currículo nacional e também local. Então, também seria ótimo haver um movimento de baixo para cima.Esse sentimento com relação aos professores é muito importante. E se esses professores vão se unir para movimentar de baixo para cima, eles precisam conversar e ter tempo para refletir. Como falamos há pouco, em termos de prática social, discutir suas ideias e entender suas necessidades de maneira mais profunda. Eles precisam ter a oportunidade de crescer como uma comunidade e contar com associações e parcerias público-privadas, com apoio da sociedade – para que eles sejam empoderados ainda mais. Esse seria um modelo maravilhoso.
E agora, vamos falar de fake news.Ah, eu sabia que em algum momento chegaríamos lá (risos). 
Você disse que vivemos num tempo em que temos uma abundância de informações e que há gente disposta a usar isso para nos convencer de alguma coisa. O assunto notícias falsas ganhou muita relevância. NOVA ESCOLA criou um projeto chamado Mentira na Educação, não!, para checar o que é verdade e o que é mentira quando se fala em gestão da educação pública. Mas pensando no Brexit no Reino Unido, na eleição de Donald Trump, por mais que se diga “Isso é real porque saiu no New York Times, no Washington Post, na BBC, no Guardian”, muita gente ainda acredita nos boatos que chegam via WhatsApp. Na sua opinião, essa é uma luta que vale a pena ou estamos diante de uma batalha perdida?
Eu acho que aqui no Brasil vocês não têm o mesmo nível de desconfiança em relação à grande imprensa, da mesma forma que temos hoje nos Estados Unidos. E acho que vocês têm muita sorte – seus leitores confiam em vocês. Então, valorizem esse confiança, sejam confiáveis. Eu gosto muito da ideia desse projeto de vocês de apontar as mentiras, isso é muito bom. Mas gostaria de dizer uma coisa: eu não gosto da ideia de criar uma hierarquia em termos de notícias. que diz que o Washington Post é sempre melhor do que o New York Times, que é sempre melhor do que a CNN, que é semore melhor do que o jornal local. Não crie essas hierarquias porque, veja só, diferentes fontes de notícias são boas para diferentes coisas. Todos sabemos que os jornais locais compreendem melhor seus leitores. Se eu quero consertar minha máquina de lavar roupa, o Washington Post não vai me ajudar, melhor recorrer a um vídeo no YouTube. Vamos reconhecer que usar diferentes fontes é bom e vamos valorizar precisão, justiça e equilíbrio – as práticas fundamentais do Jornalismo contemporâneo. O jornalismo é apenas uma das muitas escolhas em matéria de informação em nossa sociedade. Há o ponto de vista da testemunha ocular, opiniões de pessoas sobre o assunto. Em resumo, encontre seus amigos e considere a diversidade. Vamos todos sair da bolha e ir para uma grande festa que é o mundo e nos conectar, apesar de nossas diferenças. A mídia pode nos levar a pessoas que estão fora do nosso círculo de amigos, trazer novas vozes e perspectivas. O que importa é que nós tomemos nossas decisões de maneira bem informada. Isso dá apoio à democracia.
FONTE:  Nova Escola

quarta-feira, 27 de março de 2019

MEC VOLTA ATRÁS E REVOGA PORTARIA QUE ADIAVA CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

O ministro Ricardo Vélez Rodríguez assina o despacho que desautoriza a decisão do Inep, mas não dá explicação

O Ministério da Educação (MEC) revogou nesta terça-feira (26/03) a portaria que adiava para 2021 a avaliação dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamentaldentro do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Na prática, esse exame serve para medir o grau de Alfabetização dos estudantes brasileiros. O despacho publicado no Diário Oficial da União e assinado pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez determina que a orientação anterior, divulgada na sexta-feira (22/03) perca seu efeito. O texto não traz qualquer explicação para a nova decisão.
O adiamento da prova teria motivado a demissão de Tânia Leme de Almeida, secretária de Educação Básica. Tania era docente do Ensino Superior e vinha da equipe do Centro Paula Souza – bem como Luiz Tozi, que a indicou para o cargo. Tozi deixou a secretaria-executiva do MEC no último dia 12 (relembre o caso aqui). 
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Saeb, o “adiamento” da avaliação externa para as turmas de Alfabetizaçãoteria a ver com o momento de implementação da Base. Isso porque 2018 e 2019 são os dois anos definidos como o prazo para que as escolas possam se estruturar para tirar a BNCC do papel e torná-la realidade nas salas de aula. Dentro desse período, as redes de ensino estarão em momentos diferentes da implementação. No município de São Paulo, por exemplo, os currículos alinhados à Base foram implementados em 2018. Outras redes estaduais e municipais levaram neste ano o documento para as escolas, enquanto outras o farão apenas em 2020. 
A lógica do argumento seria válida também para 5º e 9º ano, que cumprem o mesmo prazo de implementação da BNCC que o ciclo de Alfabetização. No entanto, a medida não se aplica aos anos mais avançados do Ensino Fundamental – que seguirão as atuais diretrizes em vigência para o Saeb.
A mudança anunciada pelo Inep foi mal recebida pelos educadores e entidades representativas. O Consed, que representa os secretários estaduais de Educação, deve pedir a continuidade de programas criados em gestões anteriores, como o Programa de Ensino Médio em Tempo Integral, como forma de evitar o vaivém.
FONTE:  Nova Escola

terça-feira, 26 de março de 2019

EDUCAÇÃO INFANTIL GANHARÁ AVALIAÇÃO NACIONAL

Avaliação inédita integrará o Saeb e poderá chegar às escolas em 2021

As avaliações educacionais em larga escala realizadas no Brasil nunca contemplaram a Educação Infantil. Mas isso deve mudar nos próximos anos. “Vamos tentar fazer já em 2019 [a avaliação], mas não é simples. Provavelmente a teremos em 2021”, disse Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os estudos sobre o tema já se iniciaram dentro do instituto. A perspectiva é de que a Avaliação Nacional da Educação Infantil (ANEI), como será chamada, avalie as condições de oferta da etapa de ensino.
De acordo com Maria Inês, que falou sobre o tema na palestra “A BNCC e as avaliações externas da Educação Básica”, durante a Bett Educar, embora o Inep esteja debruçado sobre o tema, ainda não estão claras as definições para algumas variáveis que comporiam a ANEI. “Não sabemos, por exemplo, qual é a formação necessária do professor da etapa, qual é o mobiliário, espaço físico ou o brinquedo adequado”, disse. Ter essas definições é importante para estabelecer uma “escala de proficiência” para a etapa de ensino.
O Inep é responsável pelas avaliações educacionais em larga escala no Brasil. Além de definir quais são as matrizes de referência das avaliações (o que medir), o instituto é responsável por definir as escalas de proficiência para cada uma, fazer a coleta de dados e as análises a partir da divulgação dos resultados.
ANA, Prova Brasil e EnemCom essa inclusão, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) passará a ser composto pela Avaliação Nacional de Educação Infantil (ANEI), a ANA para os alunos do 2º ano do Fundamental, a Prova Brasil para 5º e 9º anos e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
As avaliações já existentes deverão passar por alterações em suas matrizes de competência para se adequarem à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A ANA, por exemplo, avaliava os alunos do 3º ano do Fundamental – série que determinava o fim do ciclo de alfabetização. A mudança do fim do ciclo para o 2º ano refletiu na ANA, que em 2019 já será aplicada nesta série. A Prova Brasil, cujas notas são aproveitadas para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), passará a contemplar a partir de 2021 a disciplina de Ciências, além das já avaliadas hoje (Matemática e Língua Portuguesa). “As demais disciplinas devem ser avaliadas pelos sistemas estaduais”, explicou Maria Inês. Já o Enem, que só deverá sofrer alterações dois anos após a aprovação da Base do Ensino Médio, deverá avaliar apenas a parte obrigatória do currículo da etapa. Os itinerários formativos ficarão de fora do exame.
A presidente do Inep ressaltou a importância do uso dos resultados das avaliações pela escola. “Interpretar os dados é muito importante porque eles podem contribuir para o processo de formação contínua dos nossos profissionais”, afirma. Mas para tal, Maria Inês aponta também como necessário entender de onde o resultado daqueles dados saiu e como impactam a escola. “Precisamos enxergar a avaliação como aliada. Alguns domínios de conhecimento que não foram devidamente desenvolvidos ficam visíveis ali e, olhando para os dados, é possível ajudar os professores a se desenvolverem". Mas não são apenas as avaliações nacionais que deverão ser usadas para este fim. É necessário que as avaliações processuais, que acontecem no dia a dia das escolas, consigam analisar as habilidades esperadas e adaptar suas práticas para garantir a aprendizagem. “São os professores que vão tirar a Base do papel – ou não”, define Maria Inês.
FONTE:  Nova Escola