segunda-feira, 12 de março de 2018

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR LEITOR PARA O TRABALHO COM A LITERATURA NA ESCOLA

Eu? Leitor?
Por Bárbara Franceli Passos
Qual foi o último livro que você leu? Você se recorda do
motivo que o impulsionou a essa leitura? Com que
frequência você lê, e com qual finalidade? Onde
costuma ler? Em quais horários dedica seu tempo
à leitura? Quais são os seus autores, gêneros,
assuntos e temas preferidos? Você prefere ler sozinho
ou partilhando o livro? Qual o sentido da leitura em sua vida?
Muitos questionamentos podem fazer parte de nossa rotina
 como leitores! Indo nessa direção, podemos ainda nos
perguntar: “Que tipo de relação estabelecemos entre o
nosso movimento como leitores e o nosso fazer em sala
de aula?”.
Na função de mediadores de leitura, temos a
oportunidade de tratar de diferentes aspectos que
envolvem o universo literário: compartilhar títulos,
autores e ilustradores; conversar sobre estratégias e
hábitos leitores; refletir acerca dos diferentes sentidos
 presentes nos textos. Em todas essas situações, nos
 apresentamos, também, como modelo de leitor para os
 nossos alunos e assumimos o papel de “ensinar a ler”.
Nesse contexto, é relevante destacar que o nosso próprio
 caminhar como leitores e pessoas que “ensinam a ler” vai
 além de compartilhar títulos, ler junto e refletir sobre o
 lido. É isso e muito mais. Quando nos assumimos leitores,
 observamos que, muitas vezes, assumimos também
 uma postura diante das descobertas sobre a vida e as coisas
 do mundo, pois a leitura pode despertar em nós o desejo de
desvendar aquilo que nos inquieta e nos atrai de algum
 modo. Por essa razão, conversar sobre a relação que
temos com a leitura e a literatura torna-se fundamental
no processo de troca e intercâmbio de experiências.
Afinal, quando falamos informalmente com os alunos sobre
os livros de que gostamos, compartilhamos as nossas idas
à livraria e socializamos o que sentimos durante a leitura
 de determinado título, colocamo-nos numa atmosfera de troca
 extremamente favorável à ideia de que “viver a literatura
” é também criar uma autoimagem leitora.
Dessa forma, estamos contribuindo para que os nossos alunos
 percebam que os livros e a literatura existem dentro da escola
e também fora dela. Por isso, cada leitor deve ficar atento à
necessidade de ampliar as suas estratégias de busca e
compreensão acerca do que lê e também alargar os seus
 passos rumo ao encontro com os livros.
Nesse contexto, para alimentar essa ideia e refletir a
respeito de nossas posturas leitoras, podemos comungar
com Manguel (2012), quando ressalta que “é o leitor que
confere a um objeto, lugar ou acontecimento uma certa
legibilidade possível, ou que a reconhece neles; é o leitor
que deve atribuir significados a um sistema de signos e
depois decifrá-lo. Todos lemos a nós e ao mundo à nossa
volta para vislumbrar o que somos e onde estamos. Lemos
para compreender ou para começar a compreender. Não
podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é nossa
função essencial”.
Se ler é, então, função essencial, precisamos investir em
 situações que favoreçam o nosso acesso aos livros e às
 experiências leitoras. Sendo assim, é importante que
 nós, professores leitores, e nossos alunos, tenhamos
possibilidade de estabelecer uma relação viva e intensa
com os livros. Além disso, é fundamental que nos
reconheçamos como leitores e que, acima de tudo,
encontremos sentido no ato de ler. Mas será que,
enquanto mediadores de leitura, assumimos esse papel?
 Compartilhamos com os nossos alunos o sentido da leitura
 em nossas vidas? Falamos de nossas experiências leitoras
 com eles? Verbalizamos sobre os momentos em que as
leituras aparecem em nossa rotina?
Sim, somos professores. E, por essa razão, na maior parte
do tempo, temos a tarefa de escolher o que o nosso aluno
 deverá ler. Diante dessa atribuição, portanto, precisamos
 conhecer intimamente o trabalho de autores, ilustradores
e editoras, dado o intenso crescimento do mercado editorial,
 a fim de garantir escolhas acertadas, coerentes e
pertinentes, considerando os interesses, desejos de nossos
 alunos e habilidades que eles precisam desenvolver como
 leitores na etapa da vida escolar da qual fazem parte. Porém
, temos essa familiaridade necessária com o título a ser
trabalhado com as nossas crianças em sala de aula?
Temos, de fato, o hábito de pensar em nosso repertório
leitor quando definimos o(s) livro(s) com o(s) qual(is)
trabalharemos? Costumamos avaliar as nossas escolhas,
 na medida em que entendemos a importância de
favorecer uma convivência significativa de nossos alunos
com os livros?
Para Humberto Eco, “um texto não apenas se apoia
em uma competência, mas também contribui para criá-la”.
 Dessa forma, quando selecionamos textos/livros para ler 
com os alunos, estamos “selecionando degraus” para construir
 “escadas” na formação do leitor. Partindo das ideias de 
Eco, podemos então nos questionar ainda: “Estamos favorecendo
 a ampliação do olhar dos alunos para os livros e para a 
leitura?”. Tal pergunta nos instiga a dialogar com Yolanda Reyes,
 quando ressalta: “Um professor de leitura é, simplesmente, 
uma voz que conta; uma mão que abre portas e traça 
caminhos entre a alma dos textos e a alma dos leitores. Seu 
trabalho, como a literatura mesma, é risco e incerteza. 
Seu ofício privilegiado é, basicamente, ler. E seus textos de 
leitura não são apenas os livros, mas também os leitores. 
Não se trata de um ofício, mas de uma atividade de vida. 
No fundo, os livros são isso: conversas sobre a vida. E é 
urgente, sobretudo, aprender a conversar”.
Partindo do diálogo com esses autores, podemos ainda
enfatizar a necessidade de refletirmos acerca das
estratégias que comumente utilizamos para desenvolve
r as nossas propostas de trabalho com a leitura e a
literatura na escola, atentando, principalmente, para a ideia
 de que construímos leitores a cada dia, a cada escolha,
a cada livro lido e estudado com os nossos pequenos
 alunos. Nesse sentido, concluímos (por enquanto) dizendo:
 encontrar possibilidades efetivas para que alunos e
professores se (re)conheçam leitores, juntos, pode ser um
importante caminho para o desenvolvimento de práticas
ainda mais significativas no universo de trabalho com
os livros, com a leitura e a literatura. E cabe aqui
mais uma indagação: “Quais caminhos são possíveis?”.
 Parafraseando Reyes, arriscamo-nos a indagar ainda:
“Trouxeste a chave da porta?”.