quarta-feira, 31 de julho de 2019

VALE A PENA FAZER REVISÃO NA VOLTA ÀS AULAS?

Retomar o conteúdo do semestre anterior é essencial para o aluno assimilar novos conhecimentos e para o processo de ensino-aprendizagem ser completo

Com o final das férias se aproximando, é hora de planejar o conteúdo que será trabalhado nas primeiras semanas de aula. Apesar de alguns professores ficarem em dúvida sobre fazer ou não uma revisão do semestre anterior, coordenadores pedagógicos aconselham a prática para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de forma completa.
“Durante as férias, é natural que muitos dos conteúdos ministrados em cada uma das disciplinas não tenham feito parte da rotina dos alunos, tornando mais natural ainda o esquecimento”, explica Luiz Otavio Ciurcio Neto, coordenador pedagógico do Ensino Médio do Colégio Poliedro (na foto, abaixo). Para ele, a revisão é extremamente importante para garantir a aprendizagem do que foi visto anteriormente e facilitar o aprendizado do que ainda será exposto ao estudante.
da volta às aulas atividades que reforcem conceitos, operações, regras e outros elementos essenciais para que os alunos consigam assimilar com mais facilidade o que virá em sequência. “Se eu não retomo o conteúdo, o processo de aprendizagem não será completo”, diz Adriana Ferreira, psicopedagoga e coordenadora pedagógica do colégio MOPI (foto mais abaixo).
A psicopedagoga reforça ainda a importância de resgatar o conteúdo não apenas na volta às aulas, mas durante todo o ano letivo. “Na verdade, é fundamental que em todo o processo de ensino-aprendizagem, o conteúdo dado no bimestre anterior seja resgatado”, completa. O ideal, diz, é que os alunos consigam sempre associar os novos saberes ao conhecimento prévio que possuem.
Como planejar as aulas?Essa revisão pode ser planejada e executada de diferentes formas, conforme o professor julgar mais adequado para aquele momento. “O professor precisa escolher a maneira mais adequada para o seu contexto, levando em conta as particularidades da turma, da disciplina, do planejamento e da escola”, orienta Luiz Otavio.
Buscar um caráter lúdico para as revisões, principalmente para as turmas do Ensino Fundamental I, pode ser uma boa maneira de conseguir a atenção dos estudantes. “Como a criança está vindo de um período de férias, essa revisão pede leveza”, diz a psicopedagoga Adriana Ferreira. “Se você chega com uma aula mais conteudista, na qual o aluno apenas copia do quadro, ele não se interessa. O lúdico faz com que o estudante se sinta motivado para esse momento”.
Nesse sentido, a coordenadora pedagógica orienta primeiro resgatar o conteúdo com essa pegada mais lúdica, depois sistematizar o que foi revisto e, por fim, fazer uma avaliação diagnóstica para identificar se os alunos conseguiram ou não alcançar o conteúdo desejado. “No Fundamental II e no Ensino Médio, a ideia se mantém a mesma. No entanto, para além dos jogos e brincadeiras, a ludicidade pode ser explorada em filmes e rodas de conversa”, exemplifica.
Se planejamento, ludicidade e debate têm um papel central no processo da revisão, é importante ter em vista que esse aprendizado não pode ser unilateral – do tipo em que o professor fala e o aluno escuta. “É essencial que o aluno se torne parte de do processo de revisão, para que esse momento seja significativo no aprendizado dele”, diz o coordenador pedagógico Luiz Otavio Ciurcio Neto.
Revisão na práticaÉ com isso em mente que Maria de Lourdes Parra prepara as aulas de revisão para os seus alunos. A professora do 2º ano do Ensino Fundamental da UME Therezinha de Jesus Siqueira Pimentel, em Santos (SP), procura estabelecer um diálogo com os estudantes para então propor as atividades. “Peço aos alunos para formar duplas, de modo que aqueles que já dominam os conteúdos ajudem os que ainda têm dúvidas. Dessa forma, as trocas entre eles tornam-se produtivas”, afirma. Assim como orienta a coordenadora pedagógica Adriana Ferreira, após os exercícios, a professora da rede pública avalia se ainda restam dúvidas entre os estudantes.
O dia a dia na sala de aula mostra que o diálogo e a troca de conhecimento são pontos centrais da revisão. Renata Pereira, professora de Literatura do Ensino Médio no Colégio Externato São Rafael, em São Paulo, conta que no retorno das férias sempre propõe aulas mais dialogadas e conversadas para retomar os pontos já trabalhados. “A partir do que os alunos trazem de referência do conteúdo aprendido no semestre anterior, montamos um quadro síntese compartilhado com todos da sala”, conta. Para a professora, essa é uma forma dos alunos se apropriarem do conteúdo, já que elaboram de forma visual aquilo que foi discutido.
Na busca por oferecer novos formatos de aula e ampliar o debate, a professora de Filosofia do Ensino Médio Esther Zambotti faz um resgate do que foi trabalhado no semestre anterior com recursos culturais e sociais que se conectam com as questões levantadas em sala de aula. “É uma aula na qual o conteúdo sai de uma bolha curricular e vai ao encontro de referências diversas, como filmes, poemas, livros, séries, desenhos e a própria realidade”, explica.
Esther acredita que a revisão é também um momento de oferecer novas oportunidades de aprendizado ao aluno – possibilitando a redescoberta de um conteúdo em diferentes contextos. Além da revisão em períodos específicos, a professora tem o hábito de fazer uma revisão diária com os alunos. “Consiste na retomada de conteúdos prévios em forma de comparativo com o que está sendo apresentado. Assim, debatemos, comparamos e assimilamos diferentes teorias, pensamentos e contextos”, diz a professora de Filosofia.
Algumas disciplinas, como Matemática e Ciências, pedem que os alunos coloquem a mão na massa e resolvam algumas questões durante a revisão. “Primeiro, apresento exemplos e resolvo exercícios diretos (do tipo “calcule”) e indiretos (situações problemas), sempre questionando os alunos para induzir a busca em suas memórias do período de explicação. Depois, proponho uma lista de exercícios dos dois tipos”, diz Bruna da Silva, professora de Matemática do 8º e 9º ano do Ensino Fundamental na E.E. Dr. Generoso Alves de Siqueira, em Santo André (SP). O objetivo da professora é solidificar a base de conhecimento dos estudantes para que consigam absorver os próximos conceitos e resolver questões mais complexas.
Da mesma forma, a revisão pós-férias vale para as aulas focadas no vestibular. Heitor Ribeiro, professor de História no curso Anglo pré-vestibular, em São Paulo, comenta que o resgate do conteúdo ajuda o aluno a retomar o ritmo de estudo nessa fase. Para isso, ele busca propor questões estratégicas aos estudantes. “Utilizo exercícios que permitem uma maior reflexão e fixação de conceitos. Muitas vezes são aqueles de comparação ou que exigem mais de um conteúdo para responder”, fala. Assim, é no momento da correção que Heitor constrói uma explicação que permite fazer a revisão do conteúdo.
Revisão sem errosMesmo com planejamento, a revisão proposta pelo docente pode não sair como esperado, trazendo consequências negativas para o processo de aprendizagem. “No primeiro ano em que apliquei a revisão cometi o erro de colocar apenas problemas – exercícios indiretos. Os alunos não conseguiram compreender o conteúdo de forma significativa e acabei tendo um problema maior, já que os confundi no pouco que já tinham aprendido”, relata Bruna da Silva, professora de Matemática do Ensino Fundamental II.
Se durante o processo de revisão o aluno fica com a sensação de não entendeu nada, isso pode causar ansiedade e dificultar a compreensão dos próximos conteúdos, diz o coordenador pedagógico Luiz Otavio.  Por isso, é preciso estar sempre atento às necessidades da turma e ter bem definido quais são os objetivos da retomada do conteúdo.
“Escute os alunos e parta daquilo que eles já têm em mente. A revisão é um momento de refrescar a memória e não de depositar nomes e datas, porque aí ela perde seu sentido”, aconselha Renata Pereira. Para não perder tempo com detalhes, é indicado dar prioridade às dúvidas recorrentes e conceitos primordiais para as próximas aulas.
É interessante ter em mente como a turma se comporta e pensar até que ponto pode ir com a dinâmica idealizada. Se forem estudantes com uma postura mais introvertida, por exemplo, talvez uma roda de conversa não seja o mais indicado. “Se eu proponho algo que não atinge meus alunos, possivelmente não terei o retorno esperado. É por essa razão que considero, também, a revisão do nosso próprio trabalho como educadores uma prática essencial para o aprimoramento da docência”, finaliza a professora de Filosofia Esther Zambotti.
CRÉDITOS:  Nova Escola