sábado, 29 de junho de 2019

SERÁ QUE NOSSAS ESCOLAS SÃO PRISÕES PARA NÓS E NOSSOS ALUNOS?

Precisamos refletir sobre a escola e Educação estamos construindo

Trabalho em duas escolas públicas no interior de São Paulo: uma em Sorocaba e outra em Salto de Pirapora. Me sinto bem nas duas escolas porque nosso grupo de professores é muito unido, temos boas relações, sou apoiada em meu trabalho e tenho o respeito de todos. No entanto, tenho refletido e me incomodado sobre as escolas e a Educação que estamos fazemos.

Fazendo um paralelo, nossas escolas estão parecendo prisões. Pense comigo... onde há câmeras de vigilância, grades e trancas? Onde todos tem que usar uniforme e comer, muitas vezes, o que é servido sem a opção de opinar? Onde existe hora para sair no pátio? Onde são relatadas ocorrências e são expedidas advertências? Onde as pessoas ficam umas atrás das outras em filas? Onde há uma sirene horrorosa avisando sobre os horários? Duas respostas são possíveis: uma escola ou uma prisão. Diante disso, me questiono, será que nossas escolas são prisões para nós e nossos alunos?
Não estou dizendo que não deveríamos ter regras e uma organização. Mas, às vezes, me sinto um pouco sufocada. Muito desse sentimento vem do fato de que a escola também, em seus elementos e formas de agir, pode ser um ambiente de opressão! Estamos sempre fechados em nossos espaços, em nossas salas de aula, correndo, preocupados em cumprir o currículo e as orientações, em atingir os índices estipulados por avaliações externas e tudo mais que o nosso trabalho impõe. Me pego pensando também se eu também não sou influenciada por esse ambiente. Se, pela minha (e nossa) formação que não privilegiava o diálogo e o pensamento crítico, também não há momentos em que estou sendo autoritária com meus alunos, mesmo querendo e acreditando em uma escola democrática e tentando assegurar a autonomia dos meus pequenos. Na alfabetização, com crianças pequenas e que precisam de tantas orientações, é fácil desviar o caminho. Somos mandados e, assim, mandamos e mandamos! 
Inevitavelmente, me pego pensando nas palavras do grande mestre Rubem Alves:

"Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado."
Penso que precisamos sempre encorajar voos! Mas para isso também precisamos também nos libertar de nossas gaiolas! As gaiolas que nos são impostas e as que nós mesmos criamos e que fechamos a porta! Sei que enfrentamos momentos conturbados não só em nossas escolas, como em nosso país como um todo, em que os direitos de cidadãos nem sempre são garantidos. No entanto, não podemos perder o rumo da esperança, do respeito, da força e da união.

A Educação tem que ser libertadora e nós podemos construí-la juntos com nossos alunos! Como dizia Paulo Freire: "a Educação não transforma o mundo. A Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo." E ainda ele, em seu livro Pedagogia do Oprimido fala: "a pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos. Distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão se comprometendo, nas práxis, com a sua transformação; segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação."

Com todos esses questionamentos em minha cabeça, com muita reflexão, penso que assim é o caminho, que ainda estamos no primeiro momento, mas estamos no rumo do processo de libertação, estamos em construção! Nós podemos mudar essa estrutura que nos faz sentir oprimidos dentro de um espaço que deveria ser mais libertador. E vocês, queridos professores? Às vezes, também se sentem oprimidos ou opressores? O que andam fazendo em suas escolas no sentido de construir uma escola democrática? O que acha que pode ser feito para contribuirmos para essa construção? Apesar de todas as barreiras e dificuldades, você consegue ser feliz em sua profissão? Conte aqui nos comentários!

Acredito que ainda estou no positivo. Consigo ser feliz, mas sei que não posso baixar a guarda e que preciso de tempo em tempo, levantar e alimentar essas dúvidas e questionamentos, para manter acesa a chama da esperança, alegria e da construção coletiva de uma educação pública de qualidade!

Um grande abraço a todos! Até a próxima semana,
Mara Mansani
CRÉDITOS: Nova Escola