domingo, 1 de outubro de 2017

BRINCAR E APRENDER: O LÚDICO COMO METODOLOGIA DE ENSINO

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula
Especialista em Educação, licenciado em Biologia, Pesquisador (UFPB/CE-GEPEA), professor de Educação Básica de Cabedelo-PB
Segundo o Dicionário Aurélio, brincar é “divertir-se infantilmente”; lúdico é “relativo a jogos, brinquedos e divertimentos”; portanto, ao realizar uma atividade lúdica, estamos brincando e aprendendo, com o desenvolvimento do ser, juntamente com a felicidade; são fenômenos que ficarão marcados na essência do alunado (Santos, 2011).
O brincar direcionado para a aprendizagem – ludicidade – pode ser o meio tão almejado pelos educadores na busca da melhoria do ensino em sala de aula; com essa metodologia de formação do alunado, poderemos tanto sensibilizá-los, propiciando o ensino com apreensão, vivência e encantamento, quanto prepará-los para o futuro em sociedade (Sampaio, 2010; Santos, 2011)
Durante o processo de ensino pela ludicidade, temos o envolvimento tanto do professor como dos alunos, de forma mútua. Há uma interação intrínseca que normalmente não acontece pela pedagogia convencional, pois se quebra no momento do brincar para a aprendizagem, todas as formalidades impostas pelo ensino escolar, e ambos – professor e alunos – passam a atuar conjuntamente na construção do processo de aprendizagem. Ao mesmo tempo, os educadores sentem-se realizados e rompem todas as amarras que o sistema educacional pode provocar em suas vidas. Tanto alunos quanto os educadores envolvidos despertam para a afetividade, o encantamento, o aprendizado, estreitando o convívio social e as relações interpessoais (Andreola, 1998; Córdula, 2012b; Sampaio, 2010; Santos, 2011).
Para Sampaio (2010, p. 31), necessitamos, como professores e pesquisadores, encontrar caminhos para transformar a educação, resgatando a humanescência perdida, ou seja, “aprender a condição humana, aprendendo a aprender a ser”, rompendo a formação contemporânea, para buscar meios que atinjam a vida do educando, a partir da sua própria vivência e propiciando sua formação para a vida.
Portanto, o que caracteriza nossa humanidade é o nosso cuidar conosco e com os demais à nossa volta. O lúdico trazido à tona pela vivência do alunado é uma forma de cuidar de suas vidas, encantar o seu ser, já que, para Boff (1999), cuidar significacurar, pois traz amor e amizade para a vida dos envolvidos nesse processo de reconstrução da identidade humana do ser humano. E, ao mesmo tempo que a afetividade, o prazer e a felicidade estão juntos durante este processo, os conhecimentos necessários para o educando são repassados; brincando se aprende e aprendendo se constrói sua identidade como ser humano, como indivíduo histórico-cultural e como cidadão.
A expressão maior da ludicidade são as dinâmicas, que, sendo uma palavra de origem grega (dynamis), tem por significado força, energia e ação, que são a essência das crianças e adolescentes e precisam ser canalizadas para o processo de aprendizagem na escola e, principalmente, na sala de aula; caso contrário dispersão o foco e trarão caos ao ambiente escolar. Além dessa essência já citada, é inato ao educando a criatividade e a curiosidade, que juntas, fazem despertar para o aprender e para a busca do saber – razão pela qual são tão questionadoras do mundo à sua volta (Machado; Nunes, 2012).
Ao propiciar o aprendizado por meio das dinâmicas, os alunos produzem e reproduzem “emoções, possibilitando nomear e organizar um mundo de caos para um mundo de descobertas” (Machado; Nunes, 2012, p. 19), o que permite e facilita o contato direto com o seu universo cognitivo, permitindo um maior aprendizado e a perpetuação mnemônica do saber ao longo do tempo, já que também o lúdico é intencional, direcionado e contextualizado dentro do processo de ensino-aprendizagem do educando.
O tempo de uma aula às vezes é pouco para propiciar o momento lúdico de uma dinâmica, mas, adaptando-se, pode-se desenvolvê-la em duas aulas separadas no mesmo dia ou melhor ainda quando são duas aulas geminadas. Além disso, os educadores da escola podem começar a atividade lúdica, por exemplo, na primeira aula, que é de Ciências, e na aula seguinte, mesmo sendo de outra matéria, mas de forma transdisciplinar, dar continuidade e concluir a atividade.
Dentro das atividades lúdicas, utilizamos também recursos didáticos, o que conecta ludicidade e aprendizado – estimulando o intelecto do público para a apreensão de uma mensagem ou conteúdo (Smole, 1999): artes gráficas (desenho, pintura) para estimular o processo de externalização da vivência do público-alvo (Van Koleck, 1968; Méredieu, 1997); comunicação oral e escrita para desenvolver nos alunos o ato de ler, pois a leitura quebra mitos, desvela suposições e retira a opacidade das mentes quanto a uma realidade imposta e à escrita como produção textual (Freire, 1998); diálogo coletivo, por meio de temas centrais estimularemos o debate de conhecimentos, gerando o diálogo da coletividade envolvida, com base na bagagem ambiental individual dos integrantes (Oliveira, 1998).
Empregaram-se também neste sentido recursos audiovisuais para aumentar a eficiência da mensagem passada ao público-alvo e público envolvido (Polito, 1997), como cartazes, painéis, cartilhas, textos e vídeos educativos que tratem da temática ambiental (Branco, 2003). Estes são recursos que trazem a reflexão e concretizam o aprendizado do aluno.
Höeffel et al (1998) afirmam que os conceitos são cruciais para direcionar e intencionar a atividade de sensibilização e aprendizagem dentro do contexto educativo, devendo estar vinculados em níveis biológico, cultural, social, tecnológico e científico. Além disso, devem ser trabalhados tomando por base os “5 Es”: ecologia, economia, espiritualidade, ética e educação.
Os conceitos são de fundamental importância, sendo levados em consideração os temas transversais: contidos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como guia para trabalhar com o público-alvo, sem fugir da ótica educacional (Brasil, 1998): ética e cidadania; pluralidade cultural; meio ambiente; trabalho e consumo. Devem ser considerados também conceitos específicos da temática do meio ambiente, voltados para apreensão da complexa e frágil estrutura ambiental (Dias, 1998): ecologia; sociedade; ambiente urbano e natural; problemas ambientais.
Qualquer atividade em que se tenha motricidade com desenvolvimento psicomotor, gerando aprendizado (cognição) e momentos prazerosos de felicidade junto ao alunado, é uma atividade lúdica. Os jogos e as dinâmicas são um repretório que enriquecem as aulas e contextualizam o processo de ensino.
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