sábado, 7 de outubro de 2017

QUE TIPO DE EDUCADOR VOCÊ ESCOLHEU SER?

Fosse como fosse, eu não iria punir, recompensar, gritar, negligenciar, colocar de castigo ou ameaçar. Aí é que o mergulho começou.
Quantas referências te educaram ao longo da sua vida? Você é capaz de se lembrar do professor que te fez gostar de tal ou tal matéria? Será que você se lembra daquela professora que era “casca grossa”? Além dos professores dito escolares, quem mais participou da sua educação?
Essas perguntas começaram a surgir em mim mês passado – setembro de 2015 – quando comecei meu espaço de educação no Canadá. Formato pequeno ainda, com poucas crianças, mas caminhando para uma proposta cada vez maior.
Pois bem, nessa nova empreitada eu precisei de muita inspiração. Pela primeira vez eu estava completamente debruçada sobre um projeto que eu conduziria, mas que teria abertura para influência, interferência e construção junto com as próprias crianças.
Isso me fez pensar o que eu seria, como eu seria, como educadora nessa nova configuração. Comecei a resgatar lembranças de professores que me inspiraram, que deram ou não aula para mim. Não deixei de lado os professores que me marcaram de forma “negativa”, elegendo os comportamentos deles para me guiarem e me indicarem quais sinais eu teria se estivesse fora dos valores que eu acreditava.
Cheguei a conclusão ideia de que o educador é aquele que amplia o universo cultural das crianças ou adultos com quem interage, e que lhes apresenta o mundo. Não de qualquer forma, mas com responsabilidade. Ele te ensina a não só consumir um conhecimento (como fazer exercícios de uma apostila, repetindo conceitos), mas produzir algo seu pensando no bem coletivo. Ele te ajuda a caminhar por aquele universo bastante desconhecido que são as próprias emoções, os mistérios das nossas relações e a história de como se construíram.
Nesse formato, o educador é aquele que garante que você tenha informações que fujam do supérfluo, que fujam do senso comum e que adentrem discussões que são as raízes das nossas posturas e comportamentos. Sabe aquelas coisas que fazemos todos os dias e não sabemos bem porquê?
Ele seria um fomentador da criatividade e da curiosidade. As dúvidas são o começo de todo mergulho em um novo conhecimento. Na sua prática cabem leitura, exploração, exercícios didáticos estáticossubstituídos pela vivencia na prática e observação/ação no mundo.
Ele é o profissional capacitado. Nessa concepção, o educador é aquele que conhece de desenvolvimento humano, que conhece nossos potenciais, conhece os melhores mecanismos de construção e estimulação do conhecimento.

O que é preciso para que haja um educador assim?

No jogo escolar que temos hoje não cabe um educador assim. Se você o for, será considerado um entusiasta que logo será vencido pela burocracia e pelo cansaço. E acontece. O esforço de tentar empurrar sozinho um trem todo leva a exaustão e o adoecimento.
Quando eu vejo no jornal passeatas e manifestações de educadores sempre penso por que só educadores estão lá. Onde estão os pais cujos filhos são educados por esses educadores? Quando um professor/educador luta, ele luta pela melhoria de condições de trabalho dele o que, em instância direta, significa que ele está lutando pela educação das nossas crianças.
Um profissional capacitado, que lida com o recurso mais precioso (que na minha linha de raciocínio somos nós, seres humanos) tem salários vergonhosos e condições de trabalho desumanas. Faz sentido? O espaço educacional pelo qual ele luta, sem luz/água/segurança/higiene ou seja lá o que for, é a escola que o seu filho deveria ter acesso e deveria ser ótima.

O que isso significa um educador desse na prática?

Essas análises e percepções impactaram profundamente meu trabalho. Na prática isso significava que em diversos momentos em que eu já não aguentava um choro ou estava exausta com um comportamento agressivo, eu era obrigada a não ceder aos impulsos do “castigo” e “recompensa”.
Tive que criar novos caminhos, procurar e colher das boas influências de diversas experiências em educação acontecendo ao redor do mundo para mudar posturas consolidadas em mim. Quando você não se dá outra opção se não fazer diferente, você é obrigado a criar meios e se instrumentalizar para fazer o diferente acontecer.
Se as crianças competiam por um brinquedo, minha intervenção não era estabelecer regras por elas, mas pensar juntos e colocar os limites de convívio social. Você não quer adultos que cumprem regras por que há alguém conferindo e punindo, você provavelmente que seres humanos que cumprem regras sociais pelo bem comum.
Se a criança mordia outra criança, eu não podia simplesmente punir a que mordeu. Eu tinha que proporcionar a ela uma reflexão sobre o que a levou a morder, que sentimento era aquele que estava nela e como extravasá-lo sem prejudicar o colega. As vezes era só um dentinho coçando, então era só apontar a dor causada ao outro e dar a solução de um mordedor gelado.
Fosse como fosse, eu não iria punir, recompensar, gritar, negligenciar, colocar de castigo ou ameaçar, lembra? Mas eu também não podia me aniquilar em cansaço e exaustão. Foi ai que eu voltei pras teorias todas que eu tinha estudado e entendi como elas aconteciam ali, no momento da interação com as crianças.
Também entendi que eu não havia escolhido um caminho fácilNunca é um caminho fácil quando o caminho é educar. Mas era a minha escolha, e eu precisava daquilo pelas crianças e elas precisavam dessa escolha para se desenvolverem.
O trabalho foi árduo. O começo é sempre mais difícil pra quase qualquer iniciativa na nossa vida. Pouco a pouco as crianças foram demonstrando que estavam se sentindo seguras, confortáveis e felizes.Tendo oportunidade de brincar, de aprender, de interagir de forma respeitosa e serem curiosas.
Garantidas as condições de dignidade para nós, garantidas as condições de acesso ä educação, podemos então pensar na qualidade dessa educação. Acho que precisamos começar a dar esses passos, por condições de vida que não sejam de sobrevivência, mas de humanidade.
Então a minha aprendizagem se aprofundou mais ainda. Não estou pronta e acho que nunca estarei. Mas estou no caminho e isso é o que me importa.
E vocês, que dúvidas você tem em seu caminho de educar?