Clima organizacional é um conceito que ainda não está consolidado na
Educação brasileira, embora as escolas continuem na busca pela qualidade
de ensino. Em geral, diretores, educadores e pesquisadores não dão a
atenção que esse assunto merece, mesmo com algumas experiências bem
sucedidas que podem servir de exemplo. Na minha opinião, isso acontece
porque essas tentativas de melhorar o clima da instituição não são
acessíveis à maioria dos estabelecimentos de ensino.
E o que é o clima organizacional? É um fator que influencia a qualidade de ensino, a socialização das crianças e adolescentes e a prática democrática.
O clima se forma a partir de uma teia que envolve as concepções, os
valores e as normas de uma determinada organização, cujos resultados
podem ser traduzidos nas práticas escolares.
Por exemplo: acesso
sem burocracia ao diretor (a), inclusão do diretor nos espaços de
descontração dos docentes e funcionários, como a sala dos professores, e
a liberdade de se reportar ao grupo sempre que necessário são
indicativos de que há um bom clima organizacional em uma escola
José
Guilherme Mariz de Oliveira, um especialista em Educação que eu admiro
muito, doutor pela Universidade de Oregon, diz que "um dos maiores
desafios da história da Educação é organizar uma escola, que seja, ao
mesmo tempo, de qualidade e democrática".
As escolas que têm alcançado esse equilíbrio entre os três pilares colhem os frutos da qualidade de ensino e da cultura de paz. Nessas
escolas, as pessoas trabalham e estudam com mais prazer e
contentamento, e os resultados surgem quando há atenção aos conflitos, e
não quando eles são eliminados.
Um dos maiores
equívocos quando se fala em clima institucional é imaginar um lugar sem
controvérsias e, consequentemente, sem conflitos, justamente por eles
estarem indevidamente associados à violência.
Quando falamos de
uma escola com um bom clima institucional, estamos falando de uma escola
que reconhece e valoriza as diferenças — mas não a desigualdade. Essa
sim, deve ser evitada, porque não gera potência. Ao contrário,
fragmenta, interdita e silencia. Cria e alimenta distinções que
inviabilizam o trabalho coletivo. Se há desigualdade, significa
que a escola valoriza as posições ocupadas na hierarquia, em vez de
perceber aquilo que é singular.
Aqui, falo de situações
quando, por exemplo, os alunos não podem se atrasar, mas os professores
podem. Ou quando há proibição do uso do celular pelas crianças, mas os
educadores atendem ligações dentro da sala de aula. Também quando os
professores e funcionários são obrigados a cumprir horários, mas seus
superiores se sentem desobrigados de serem pontuais. Ou seja, as
desigualdades são incoerências que existem nas relações entre os
segmentos de uma organização.
Com base em tudo isso, concluo que a liderança do diretor tem papel estratégico.
Ela media e articula professores, alunos, funcionários e a comunidade.
Assim, o diretor difunde os princípios e valores da organização,
transformando a atmosfera da escola com coragem, cordialidade,
disciplina e relações mais próximas com a família e os alunos.
O
clima organizacional, portanto, é o grande indicador da cultura reinante
em uma instituição. É por meio dele que se percebe a harmonia, os tipos
de liderança, a disciplina e a qualidade das relações. Em consequência
disso, as diretoras e diretores devem reconhecer, valorizar e buscar
construir um clima organizacional compatível com os princípios da
qualidade e da democracia, a fim de instituir a paz necessária à prática
educativa.
Claudio Marques da Silva Neto é diretor da
EMEF Infante Dom Henrique, em São Paulo. Tem experiência em direitos
humanos, formação docente, cultura escolar, indisciplina, violência e
gênero. É mestre e doutorando em Educação pela Universidade de São Paulo
(USP).
FONTE:
GESTÃO ESCOALR
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