Veja uma técnica eficaz que você pode adotar hoje para conseguir se manter atento, calmo e equilibrado
Meu trabalho de capacitação de educadores me coloca em contato com muitos professores de diversas realidades: da rede pública e privada, de pequenas escolas de bairro a colégios enormes, tradicionais e modernos, bilingues ou não, atendendo alunos de todos os níveis socioeconômicos.
Independentemente da realidade, invariavelmente ouço de educadores: os alunos estão mais agitados a cada ano.
Ensinar nunca foi tarefa fácil. Não importa se nosso trabalho é com Educação Infantil, ensino fundamental ou médio. Temos que estar conscientes do conteúdo a ser transmitido a dezenas de estudantes que podem ou não estar interessados no que temos a dizer. Temos que estar atentos à classe toda ao mesmo tempo em que um ou dois alunos estão agindo de maneira disruptiva. Temos que lidar com estados emocionais das crianças e adolescentes enquanto lidamos com nossos próprios medos, inseguranças e frustrações.
Estudos mostram que essa constatação dos professores não é somente uma percepção: estudantes estão de fato chegando menos preparados às escolas, com as funções executivas menos desenvolvidas que indivíduos de gerações anteriores1 e a capacidade de prestar atenção, em geral, mais diminuída2.
Nesse cenário provável de deterioração do foco, bem-estar e equilíbrio emocional, é ainda mais importante que o professor seja ele mesmo um exemplo dessas qualidades que gostaríamos de regatar nas crianças. E isso certamente é mais fácil falar do que fazer.
Quantos de nós nos levantamos pela manhã determinados a não perder a paciência, a ser um educador exemplar, mas uma situação surge e, quando nos damos conta, estamos levantando o tom de voz com um aluno, agindo no piloto automático, no “calor da emoção”?
Para que qualidades como foco e tranquilidade possam florescer, não é somente uma questão de decidir “ser uma pessoa equilibrada”. No meio de um episódio emocional, é de pouca utilidade que alguém nos diga: “Ei, você precisa se acalmar”. Disso sabemos. O que muitas vezes não sabemos é como fazer isso.
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A boa notícia é que a neurociência tem demonstrado que essas habilidades podem ser desenvolvidas e, nas palavras do pesquisador Richard Davidson “desenvolver o bem-estar não é diferente de aprender um instrumento” – ou seja, requer treino e resiliência.
A prática da meditação é uma forma de treino para a mente que existe há milhares de anos. Estudos e evidências científicas recentes mostraram sua eficácia para reduzir estresse, aumentar o bem-estar e autoestima, além de ajudar na capacidade de foco, atenção e equilíbrio emocional.
Falando especificamente do ambiente educacional, estudos feitos em escolas norte-americanas mostraram que professores que praticam a meditação afirmam:
- realizar seu trabalho de maneira mais eficaz
- melhoria da organização em sala de aula
- maior equilíbrio emocional em classe
Aqui no Brasil, tenho testemunhado um número crescente de professores adotando a prática da meditação e com alegria vejo a grande diferença que isso pode fazer em seu bem-estar. Como um professor me disse outro dia: “Quando entro em sala de aula ‘meditado’ tudo parece fluir melhor”. Que tal aproveitar as férias escolares para adotar uma prática que pode ajudar a cultivar calma, equilíbrio emocional e bem-estar?
Como meditar?
Talvez você tenha ouvido falar que meditação é “deixar a mente em branco” e por isso tenha chegado à conclusão que a meditação não é para você, pois seria muito difícil “esvaziar a mente”. Se esse é seu caso, por favor, continue lendo este artigo pois tenho uma boa notícia para você.
A prática da meditação nos ajuda a fortalecer a habilidade de perceber o que está acontecendo, enquanto ainda está acontecendo. Quando nos sentamos para praticar a meditação, escolhemos um objeto de foco para nele apoiar a atenção. Mais cedo ou mais tarde e, em geral, mais cedo que mais tarde, nossa mente se distrai, o que é normal. Como nos propusemos a prestar atenção, temos uma chance maior de notar a distração, deixá-la ir e, com gentileza, retomar o foco. Vamos repetir este processo um “zilhão” de vezes. É um treino. Um treino da mente.
Por treinar com frequência, quando assuntos variados estiverem dando “voltas” em nossa cabeça sem que haja intenção de devanear, quando há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e está difícil focar, nestes momentos, em geral, notamos mais rapidamente a agitação mental e conseguimos nos acalmar e focar com mais facilidade que antes.
Além de ajudar na concentração, a prática da meditação contribui para o equilíbrio emocional. Como? Ao estarmos mais atentos ao que nos acontece, temos maior chance de notar quando nos perdemos em estados mentais aflitivos, com pensamentos recorrentes que só produzem de sofrimento, sem nada trazer de construtivo. De novo, por estarmos treinados em retornar nossa atenção ao objeto de foco, conseguimos “sair” desses estados emocionais mais facilmente. A prática apoia a capacidade de observar as emoções surgindo de uma perspectiva segura, lidando melhor com elas.
Uma outra habilidade cultivada com a prática é a calma. Não que a meditação em si seja uma técnica de relaxamento, mas meditar pode ajudar a relaxar corpo e mente, criando um espaço interno tranquilo, uma forma de gerar energia autônoma, que não depende de eventos e objetos externos para se manifestar. E esse estado pode ser de grande ajuda.
Em momentos estressantes e demandantes da vida, como fim de trimestre ou uma conversa difícil com pai de aluno, saber acessar mais facilmente esta calma, ainda que externamente tudo pareça caótico, é uma coisa que pode nos ajudar muito. Brinco com meus alunos em idade escolar que é como se construíssemos um “estoque de calma” que vai ser útil nos momentos que mais precisamos.
CRÉDITOS: Nova Escola