quinta-feira, 28 de setembro de 2017

GESTÃO EMPRESARIAL... O QUE ESTÃO FAZENDO COM A ESCOLA?

Vamos imaginar que você decidiu aprender mandarim. Você não tem noção nenhuma, mas será essencial aprender já que você decidiu morar uma temporada na China. Então a empresa na qual você trabalhará por lá te inscreve em um curso. No seu curso, há cerca de trinta a quarenta pessoas, cada uma em um nível de mandarim, algumas já quase o dominam. O professor deve seguir rigorosamente um script, então dá seguimento à aula atendendo o grupo mais avançado. E você? Fica observando e pensando se alguém mais enxerga apenas desenhos sem sentido na lousa. No final do mês o professor te avalia, com base nos alunos que já tinham conhecimento do mandarim, e parece que seu progresso não fez diferença: Seu emprego está em jogo, sua permanência na China em jogo e sua reputação em jogo.

 Reconhece essa cena?

E daí que é assim que muitos de nossos filhos tem se sentido na escola. Deslocados, avaliados segundo roteiros pré-estabelecidos de desenvolvimento esperado. Para eles, cada vez mais os conteúdos são uma verdadeira aula de mandarim, e os tempos que eles têm pra aprender tem se tornado cada vez mais escassos e sua atenção menos constante.
Essas crianças são avaliadas e sua autoconfiança é posta em sua nota, na reação dos professores e dos pais: Você não se saiu bastante quando comparado aos colegas, você não se saiu bem o bastante para seguir pra próxima etapa e, por fim, o que há de errado com você?
O que há de errado está errado não na escola e não em nossas crianças. Aceitamos um modelo de gestão escolar semelhante ao de gestão empresarial, e isso partiu de onde? Nem vou me dedicar a discutir se o modelo empresarial tem servido sequer as empresas, mas vou focar completamente na escola.
A escola não pode ser gerida como uma empresa pelo simples fato de que ela forma seres humanos, ela os põem em relação e deve fornecer todos os instrumentos necessários para que os que a frequentam possam entender e atuar no mundo em que vivem e colaborarem pela humanidade. Todos devem viver em relação de igualdade: Igualdade no direito de aprender, igualdade no direito de ter recursos materiais para isso, igualdade de ser respeitado e poder desenvolver todo seu potencial humano.
Se atropelarmos o processo de aprendizado de cada criança não estamos a respeitando. Na prática isso significa que seu filho pode ter dificuldades na escola, merece ser atendido e orientado, merece respeito pelo seu tempo de aprendizado, merece a confiança da professor(a) de que juntos (aluno-professor(a)) superarão aquele saber e o elaborarão,
Para nós, adultos e pais, fica a tarefa de questionar esse pacto estranho que aceitamos do Poder Público de que nossos filhos devem ser educados em moldes fabris.