terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

POUCO, MUITO OU NADA: O QUANTO APRENDER E ENSINAR MUDARAM?

Por João Luís de Almeida Machado

“O que é preciso aprender não pode mais ser planejado nem precisamente definido com antecedência. [...]. Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos. No lugar de representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em ‘níveis’, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes ‘superiores’, a partir de agora devemos preferir a imagem em espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa posição singular e evolutiva (LEVY, Pierre. Inteligência coletiva: para uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 2007).
O modo como ensinamos continua o mesmo apesar das tecnologias. O jeito de aprender, no entanto, se alterou bastante e isso tem pouca ou nenhuma influência da escola. Enquanto Pierre Levy pensa e advoga esta nova forma de ensinar e aprender, nos percalços do dia a dia das escolas o embate ainda é muito analógico e as dificuldades são aquelas do mundo real e imediato. Não conseguimos ainda, com as ferramentas que são conhecidas por todos (ou deveriam) os resultados que se esperam da educação formal então como afirmo que o jeito de aprender mudou?
Mudou fora da escola, pelo contato com diferentes mídias, não que isso tenha ocorrido necessariamente para melhor. Há mais informações, recursos e meios para se chegar a todos estes dados, em qualquer hora e lugar, mas a profusão destas não significa aprendizado. Aprende-se ou informa-se sobre aquilo que interessa: a notícia sobre artistas ou futebol, como resolver o cubo mágico, de que modo passar de fase neste ou naquele game, uma receita de bolo de laranja com calda, como consertar o chuveiro elétrico, qual é a fórmula da relatividade porque tenho uma prova hoje e isso vai ser cobrado...
A aprendizagem nas escolas, por sua vez, pouco ou nada se alterou, sendo ainda muito estanque, parecida com o jeito como nossos avós ou bisavós aprendiam, com todos sentados em fila indiana, memorizando fórmulas ou fatos para uma prova que será realizada na próxima semana ou mês, agora com auxílio luxuoso de tecnologias ligadas a internet, como notebooks, tablets ou smartphones.
Os professores, a despeito de incorporarem recursos as suas aulas, de forma incipiente, muito individualizada, continuam adeptos de aulas expositivas, tarefas e outras ações típicas da escola analógica. Mesmo os recursos tecnológicos são usados de forma bastante conservadora, com receio, apenas pontualmente, em aulas experimentais.
Novos modelos de aula, como a sala de aula invertida (flipped classroom) ou o ensino híbrido (blended learning) são embrionários, restritos, reduzidos a algumas escolas ou heroicos professores que tentam inovar por conta própria. Redes de ensino e escolas são, no geral, muito conservadoras e, os professores, tão quanto ou até mais. Porque mexer no meu queijo, ou melhor, na minha aula se ela dá certo, traz resultados e é apreciada pelos alunos?
Será mesmo professor? Notou que de uns tempos para cá seus alunos talvez andem um pouco mais conversadores ou, em alguns casos, dispersos? Tanto aqueles que andam com a língua solta demais quanto aqueles que estão no mundo da lua estão enviando mensagens para você faz algum tempo, mas como eles são digitais e você ainda analógico, a comunicação não se estabeleceu, não é mesmo?
Neste cenário, dá para mudar de fato?
Continuo acreditando que sim e que é mesmo irreversível o caminho que temos pela frente, mas nas escolas a marcha lenta ainda vai imperar e retardar o processo para que, talvez, com uma nova geração de educadores, já nativos digitais, o milagre aconteça. Aí os problemas serão outros, talvez associados a dispersão, falta de foco e profundidade, carência de uma leitura mais atenta e resoluta ou dificuldade de comunicação por conta do excesso de exposição as tecnologias... Acho que eu talvez nem esteja mais por aqui para conferir isso...
Meu sonho é que aquilo que pensa e expõe Pierre Levy no pensamento que abre este breve texto se configure e torne-se realidade o mais brevemente possível, é por isso que batalho nas frentes de educação e tecnologia, nas quais fui recruta e depois de alguns anos de experiência e estudos, ganhei algumas patentes.

FONTE:
PLANETA EDUCAÇÃO