terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

"PPP" E O CURRÍCULO ESCOLAR

Sabemos que o Projeto Político Pedagógico (PPP), assim como 

o currículo escolar, é um dos elementos mais importantes do âmbito 

educacional, porém, quase não é lembrado.


O PPP é um instrumento teórico-metodológico a ser construído 
com a finalidade de efetivar uma mudança. Sabemos que as 
mudanças não ocorrem de maneira eficaz sem que estejam 
vinculadas a uma proposta conjunta da escola, visando a 
realidade e a filosofia educacional em torno da sociedade, 
tal como as concepções de pessoa, planejamento, currículo, 
disciplinas, a um leque de intervenções e interações. Todavia, é 
bom observarmos que ele reflete as experiências de 
conhecimentos que serão proporcionados aos alunos de um 
determinado curso, para tanto, deveria ser encarado como 
elemento central do processo da educação.


Todo o processo de planejamento rigoroso, pensando na 
transformação, deve contemplar algumas dimensões básicas 
como levantamento de dados, objetivos, diretrizes, práticas
 e análises dos resultados. E jamais deve ser feito apenas para 
ter um PPP com textos bonitos e ousados para serem 
apresentados à comunidade. Tem que haver um comprometimento 
muito grande por parte dos envolvidos para realmente acontecer 
um processo de mudanças da realidade.

O currículo escolar, parte integrante do PPP, representa uma
caminhada que o aluno faz ao longo de seus estudos.
Sacristán (1998:25), já dizia que a escolaridade é um percurso
para os alunos/as, e o currículo é seu recheio, seu conteúdo,
o guia de seu progresso pela escolaridade.
Para que o mesmo seja eficaz e não caia no desconhecido
documento fechado dentro de gavetas, além de ser
compreendido e construído com a participação de todos
os atores do processo educativo, ele deve conter, em linhas
gerais:

· A fundamentação teórica;
· Os objetivos de aprendizagem de cada ciclo ou série;
· Os conteúdos que serão trabalhados e as expectativas
que deverão ser alcançadas;
· Orientações didáticas e referências bibliográficas.

Além de ser um documento que leva em conta as
diversas possibilidades de aprendizagem, a seleção de
metas e conteúdos, o mesmo precisa ser revisto
permanentemente para acompanhar a educação das
crianças. São orientações que devem servir como
bússola norteadora da aprendizagem.

Elaborar documentos curriculares supõe, além disso, tomar
decisões que afetarão muitas escolas – todas as que pertencem
a uma jurisdição. Fazer propostas que se levarão à prática
em instituições muito diversas apresenta problemas
diferentes dos que se apresentam ao orientar o trabalho de
uma escola ou classe específica(...) Lerner (2008:54)

A elaboração desse documento é um desafio muito
grande, pois envolve dificuldades didáticas, que apenas a
didática da língua pode resolvê-las e, quando é do nível de
 rede municipal, assim como Lerner cita, supõe-se que as
decisões devem afetar várias escolas, pelo fato de
apresentarem problemas diferentes. Partindo desse
pressuposto,
é inevitável se perguntar pela validade das propostas
envolta das diversidades de situações.

Segundo Coll (1996), a proposta curricular deve ser
concreta, operacional, flexível e fácil de ser utilizada,
em um período razoável de tempo, garantindo
continuidade através da estruturação ordenada e
coerente de cada disciplina, respeitando as
diferenças de cultura locais (ou regionais), bem como
os diferentes níveis ou etapas da escolarização
consideradas obrigatórias. Deve ser baseada no modelo
aberto de currículo, de modo que tenha flexibilidade
de adaptação e que seja espiral, se adaptando
às características gerais educacionais.
Para Vasconcellos (2006:37) , construir a identidade da
escola não é adotar um rótulo. Somente a junção dessas
vertentes trará contribuições indispensáveis para uma
formatação adequada do documento, visando as
necessidades gerais dos alunos.

O currículo é um elo entre uma ideologia e uma pedagogia,
pois trata da realidade do aluno e do seu meio que, em
função disso, gera a prática pedagógica do dia-a-dia.
De acordo com o enfoque cognitivo-evolutivo, existem
sempre limites para a cognição natural e informal de seus
componentes. Com essas orientações definidas,
torna-se possível avaliar a educação como um todo e
em particular, partindo dos diversos testes educacionais,
como por exemplo, a Prova Brasil. Sem ter um currículo
claro e sem objetivos definidos, essas avaliações
perdem o sentido.

Se há tantos estudos envoltos às questões de um bom
currículo e seus pressupostos, por que ainda existem
restrições e tropeços na caminhada do ano letivo?

Tratando-se da questão da leitura, geralmente ela está
inserida, entro da escola, num âmbito obrigatório por
assim dizer, uma vez que fora dela, a leitura se mantém
alheia à obrigatoriedade, tal motivo que mantém a
escola numa responsabilidade social muito grande
e apenas uma transfiguração da situação para que
tudo comece a mudar.
Todavia, as mudanças assustam e a responsabilidade
escolar cresce, apesar de não estar sozinha. Para tanto,
há de se fazer um verdadeiro trabalho de equipe,
afastando-se dos muros de lamentações, para realizar
um projeto. Perrenoud (2000) já citava que não há pior
adversário da mudança do que esta constatação
 que os céticos gostam de sussurrar com prazer (...).
Nesse contexto, reflete:
É preciso explicitar práticas de referência. Nesse caso,
como no
trabalho em equipe, deve-se sair da sala de aula,
interessando-se pela comunidade educativa em seu
conjunto. Seria equivocado, porém, acreditar que ocorre
um distanciamento das questões didáticas, pedagógicas
e educativas, que está no campo da ”administração
pura” e, por essa razão, autorizado a esquecer as
aprendizagens e o progresso dos alunos. (Perrenoud, 2000:96)

Todavia, a equipe pedagógica tem que ter clara a proposta
do MEC, que os currículos não são conteúdos prontos a
serem passados aos alunos, e sim uma construção e
seleção de conhecimentos e práticas produzidas em
contextos concretos e em dinâmicas sociais, políticas
e culturais, intelectuais e pedagógicas.
De encontro com as pesquisas de Perrenoud, torna-se
claro o pensamento seguinte:
As indagações revelam que há entendimento de que os
currículos são orientados pela dinâmica da sociedade.
Cabe a nós, como profissionais da Educação, encontrar
respostas. (MEC 2007:9)

As respostas começam a aparecer quando os educadores
 e os educandos forem reconhecidos como sujeitos
de direitos. Esse reconhecimento dispõe os currículos, a
cultura, a formação, a diversidade, o processo de ensino-
aprendizagem e a
avaliação a um novo paradigma de valor, o direito.

É certo dizer que o correto seria sempre reorientar o
currículo, com o princípio de partir de onde o aluno está
e não de onde consideramos que deveria estar, buscando
práticas que levem a garantia do direito à educação.

É um absurdo exigir de um aluno cuja herança cultural não
predisponha a se conceber como um sujeito autônomo
(...) O desafio da educação escolar é, ao contrário,
proporcionar a todos os meios para conceber e fazer projetos,
sem fazer disso um pré-requisito. (Perrenoud 2000: 97)
Já sabemos que os conteúdos não podem ser reduzidos
apenas nas ciências que as estudam ou por análises
psicológicas, mais do que isso, podemos afirmar perante aos
pesquisadores, que é indubitavelmente necessário realizar
condições favoráveis às situações do aprendiz com
investigações didáticas para validar as situações de
aprendizagem


Para saber mais: COLL, César. O construtivismo na sala de aula.
São Paulo. Ática, 1996.

PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar.
Porto Alegre. Artmed, 2000.

VASCOCELLOS, Coordenação do trabalho pedagógico: do
Projeto político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São
Paulo. Libertad, 2006.

BRASIL, Secretaria de Educação. Indagações sobre Currículo.
Brasília, 2007
http//portal.mec.gov.br