quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A ESTANTE DO FORMADOR (COORDENADOR)

Organize os arquivos para acompanhar melhor o trabalho pedagógico e ajudar a construir a memória da escola

Por Amanda Polato

Em nome da ordem, muitos profissionais adoram fazer uma limpeza nos arquivos e jogar fora a papelada que, acreditam, só ocupa espaço e não tem mais utilidade. O coordenador pedagógico, porém, não pode abusar dessa prática. É responsabilidade de quem exerce essa função arquivar atas de reuniões, materiais teóricos, avaliações, planos de aula e outros registros relacionados à prática docente e aos alunos. E não é só guardar por guardar: tudo isso é útil no planejamento da formação dos professores e para preservar a memória da escola. "Esses documentos revelam o passo a passo do desenvolvimento dos estudantes", explica Flávia Melice Vergani, assessora da coordenação pedagógica da Secretaria Municipal da Educação de Caxias do Sul, a 125 quilômetros de Porto Alegre.
Os relatórios dos professores e as anotações, por exemplo, quando bem organizados, servem para identificar eventuais dificuldades dos docentes em sala de aula. É com base neles que o coordenador vai pensar nas pautas do trabalho pedagógico coletivo, buscar referências teóricas para responder às dúvidas, discutir estratégias, propor soluções e garantir que o projeto político pedagógico da escola seja mantido. "Analisando essas pastas, a equipe gestora consegue enxergar tudo o que está sendo feito na escola", diz Dineia Hypolitto, especialista em avaliação pela Universidade de Brasília e professora no curso de Pedagogia da Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo (leia nos boxes o exemplo de uma estante completa para o coordenador).
Cada um tem um jeito diferente de organizar os arquivos. Os critérios podem ser cronológicos, temáticos ou relacionados a problemas ou conteúdos específicos, como "Alfabetização", "Sistema Numérico" e "Produção de Texto". Clézio dos Santos, professor do Centro Universitário da Fundação Santo André e formador de professores em Santo André, na Grande São Paulo, explica que existem dois tipos de documento no acervo do coordenador: os primários (textos escritos pelos professores e os livros para consulta) e os secundários (material que traz análises e comentários do coordenador em relação aos registros e às observações feitas em sala de aula). É interessante que os documentos sejam datados (a não ser os de uso contínuo, como os teóricos e as obras de referência) para facilitar a localização. 
As anotações do coordenador imprimem nos materiais feitos pelos professores os componentes da análise e da reflexão, essenciais para a melhora da prática profissional. Por exemplo, nos documentos de avaliação de alunos, os comentários ajudam a identificar a dificuldade de alunos ou turmas e a pensar formas de superar as lacunas de aprendizado, como o uso de outras estratégias de ensino. 



Formação em serviço 

No Liceu Santista, em Santos, município do litoral paulista, os encontros dos docentes com a equipe pedagógica acontecem regularmente uma vez por semana ou fora do planejado, sempre que for necessário. As falas dos participantes são transcritas pelas estagiárias da escola e as atas assinadas por todos. Os assuntos debatidos aparecem em tópicos e os encaminhamentos necessários são destacados, com grifos ou anotações das coordenadoras, para posterior consulta. "Sempre recorro a esses papéis antes de fazer a pauta da reunião seguinte, o que é essencial para a coerência e a continuidade nos trabalhos", conta Elaine Zipoli Martinez Novaes, uma das coordenadoras pedagógicas da escola. 

Esses documentos ajudam, inclusive, a manter a sintonia na atuação das duas educadoras, que trabalham na escola em turnos diferentes. Diariamente, elas anotam tudo o que acontece: as conversas com os pais de alunos, os professores e a direção e até situações ocorridas com os estudantes que fujam da rotina. Nenhuma das profissionais começa a jornada antes de consultar os registros da outra. 

Cada turma ganha uma pasta no início do ano letivo. Nelas, os documentos são agrupados por aluno. São fichas de avaliação, relatórios sobre a evolução dos diversos aprendizados, as observações com as características de cada criança e os registros das conversas feitas pelas coordenadoras ou pelo professor com os pais. Até encaminhamentos a psicólogos e outros profissionais ficam registrados ali. No fim do ano, é possível rever o que foi realizado em sala de aula e o desenvolvimento por turma e por estudante. Esses documentos são arquivados enquanto o aluno permanece na escola. No começo do ano, os professores leem as fichas relacionadas aos aprendizados dos novos alunos. Essa prática ajuda os docentes a conhecer melhor o grupo com o qual vão trabalhar e a fazer um planejamento que considere os aprendizados e as possíveis dificuldades sem deixar de lado os conteúdos previstos para o ano.


Base teórica 

Aqui estão o projeto político pedagógico da escola (com os princípios e os valores, o que deve ser ensinado e como), os Parâmetros Curriculares Nacionais, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e o currículo da rede (estadual ou municipal, todas as redes, a princípio, devem ter um). Sem consultas constantes a eles, o trabalho corre um grande risco de perder o direcionamento claro e a coerência. Ficam também nessas prateleiras os textos e livros teóricos, que dão as bases para as soluções dos dilemas do dia a dia. 



Registros de reuniões 
Pautas e atas de reuniões dos encontros de trabalho pedagógico, ou mesmo outras reuniões, organizadas por datas, são essenciais para que a formação em serviço tenha continuidade. O foco das pautas deve ser o processo pedagógico. As atas são mais eficientes se mostrarem as estratégias, as dificuldades e os problemas discutidos nos encontros. Anotações de reuniões individuais com os professores também merecem estar em pastas (que tal uma para cada docente?) para facilitar o acompanhamento de toda a equipe.


Uso no planejamento 

Um professor novo entra na escola. O que fazer para familiarizá-lo com a proposta pedagógica e as atividades já realizadas? Abrir os arquivos é um bom começo. E isso também ajudará o novato a dar início ao próprio planejamento. "Nesses documentos, estão os saberes produzidos que circulam na escola. Para que eles sejam compartilhados e bem utilizados, é necessário que estejam organizados", afirma Ana Maria David, da Escola Stance Dual, na capital paulista. Suas pastas - com planos de aula, sequências didáticas e projetos - estão marcadas com o nome da disciplina, o ano e o item da matriz curricular ao qual os conteúdos estão relacionados. Ela mantém arquivos em papel e no computador. Cronogramas e agendas abertas, com os eventos e os compromissos de toda a equipe, completam o arquivo - sempre disponível para a consulta dos professores. 
Se organizar o material de uma escola é trabalhoso, imagine de duas. É o que faz Maria Madalena Debastiani, formadora da EMEF Vinte e Um de Abril e da EMEF Assis Brasil, ambas na região rural de Caxias do Sul, a 137 quilômetros de Porto Alegre. Alguns documentos, Maria deixa nas escolas. De outros, como os materiais de estudo e planejamentos, ela tira cópias e carrega de uma para outra. Dessa forma, ela faz o papel de uma agente de intercâmbio: "As unidades têm propostas diferentes, mas estamos sempre trocando informações. Procuro ouvir as necessidades dos professores e sugerir atividades que atendam às necessidades de ensino. Juntos, adaptamos os projetos que deram certo e elegemos sequências didáticas eficientes, muitas vezes com base em experiências testadas e aprovadas na outra unidade".


Avaliação

Cópias das ferramentas de avaliação usadas pelos professores (portfólios individuais e coletivos, provas e relatórios) e pautas de observação. Aqui cabem CDs e fitas com registro de atividades para a tematização da prática. Tudo isso é usado para definir a pauta de reuniões, refletir sobre os instrumentos de avaliação e planejar a formação de grupos de apoio. Todos os materiais podem - e devem - ter anotações feitas pelo coordenador. 

Planejamento de aulas 
Todo professor deve ser orientado a planejar as aulas dentro da proposta pedagógica da escola e da rede. Porém cabe ao coordenador apoiar essa tarefa. Uma das maneiras é organizar e disponibilizar o acervo de planos de aula, sequências didáticas e projetos, construído ao longo dos anos não só para consultas mas também para tornar esses documentos objetos de reflexão nas reuniões coletivas. Se um projeto funcionou bem com uma turma, por que não ser retomado por outros docentes em momentos posteriores?

FONTE: http://gestaoescolar.org.br/formacao/estante-formador-494645.shtml