sábado, 10 de junho de 2017

LEITURA (NA ESCOLA)

O conceito de leitura é amplo e complexo. A leitura como conceito passa pela forma de 724 decifrar signos e atinge a produção de sentido, ou seja, a concepção de cada indivíduo, visto que a interpretação depende da vivência de cada indivíduo. A aprendizagem da leitura está ligada diretamente ao processo de formação geral do indivíduo. As duas principais concepções de leitura vigentes definem leitura como: a) sendo apenas uma decodificação mecânica de signos lingüísticos; b) sendo um processo de compreensão que abrange os componentes cognitivossociológicos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000, p. 53) analisam que: o trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, conseqüentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. Aborda ainda, que a leitura é um processo pelo qual o leitor constrói o significado do texto, a partir do seu referencial pessoal (seus objetivos; seus conhecimentos sobre o assunto, o autor e a língua). Não basta apenas decodificar as letras, é preciso antes compreender o que se lê. Se a leitura como prática social é sempre um meio, nunca um fim, percebe-se que ler é a resposta a uma necessidade ou objetivo pessoal. Neste sentido, mais do que nunca, as instituições de ensino têm o compromisso educacional e social de incentivar e promover ações que visem a formação cultural dos estudantes. Leitura na escola e na biblioteca No processo educativo a leitura tem sua importância inquestionável. Essa certeza une pais, professores e bibliotecários, na convicção de que ler é bom e desde pequenas as crianças devem aprender a gostar de ler. Na escola deve-se investir na leitura como um ato cultural e não se pode ignorar a importância da biblioteca sempre aberta e interativa. Um lugar para se praticar a troca espontânea que a leitura crítica proporciona; a leitura inquieta, que faz pensar e reelaborar, num autêntico processo de comunicação, cujo resultado é dos mais compensadores. Não existe apenas um modo de ler bem, mas existe uma razão precípua para ler. Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada. Caso pretenda desenvolver a capacidade de formar opiniões críticas e chegar a avaliações pessoais, o indivíduo precisará continuar a ler por iniciativa 725 própria. Ler deve ser a satisfação de interesses pessoais. Uma das funções da leitura é nos preparar para uma transformação, e a transformação final tem caráter universal. Embora exista no Brasil, há anos, uma forte demanda pela formação de incentivo à leitura, persiste entre nós um ponto que precisa ser de fato tratado: enquanto as bibliotecas escolares não exercerem seu papel fundamental neste processo, as ações serão intermitentes e ineficazes. É evidente que a intervenção decisiva da biblioteca na promoção da leitura passa pela formação de recursos humanos, pela multiplicação e atualização de acervos, pelo envolvimento com sistemas de comunicação em massa, pela formação de sistemas de informação, para que muitos possam conhecer o quê de reflexão e experiência corre o mundo. Melhorar a qualidade da educação no Brasil, passa por um esforço coordenado entre as instâncias políticas, técnicas e a cidadania em geral. É responsabilidade de qualquer agente da educação prever as possibilidades concretas que tem em suas mãos para contribuir neste processo. Um indivíduo precisa, desde a infância, formar hábitos e desenvolver habilidades e dar-se o prazer de ler, de se informar, de ser deixar levar pela fantasia e pela imaginação. Qualquer esforço feito nesse sentido é, sem dúvida, um dos investimentos mais eficientes para melhorar a qualidade de vida de nossos povos, de nossas famílias, de nossas crianças. Para Kuhlthau (2004), o maior causador de problemas de leitura é a falta de motivação. Quando a criança sente que o livro não tem nada de interessante a oferecer, tem pouco incentivo para ler de forma independente. Daí a importância do bibliotecário ou professor no momento de seleção dos livros para leitura. Ambos tem uma posição privilegiada, pois conhecem tanto o grau de desenvolvimento de suas crianças, quanto a coleção da biblioteca. Desmistificar a leitura, a ciência, a educação e a cultura, torná-las acessíveis a jovens e crianças, constitui um dos instrumentos mais adequados à criação de um ambiente de prazer, de satisfação das curiosidades e fantasias. Contudo percebemos ainda em bibliotecários, professores e especialistas em informação a escassez de atitudes decididas e de medidas criativas para criação desse ambiente. E é deles que deveriam surgir propostas para as autoridades políticas e econômicas que tomam decisões e definem prioridades de desenvolvimento cultural. Quem tem contato diário com o público leitor, e observa em sua biblioteca ou unidade de informação o desinteresse total da comunidade pelos serviços que a instituição oferece, percebe também o quanto se desconhece o potencial da biblioteca como fonte de solução para problemas cotidianos. 726 Criatividade no incentivo à leitura A biblioteca desempenha um papel educador quando incentiva o gosto pela leitura, considerada a porta de entrada para o conhecimento. Portanto, esta deve funcionar como um espaço motivador para que crianças e adolescentes descubram o prazer de ler. É preciso resgatar o gosto pela leitura nas escolas e valorizar os livros, através de ações que visem torná-los atraentes aos estudantes. Neste sentido, as bibliotecas são os locais mais indicados para o desenvolvimento e suporte a estas ações, já que nelas que estão os livros. Estimular o gosto pela leitura requer estratégias desafiadoras e principalmente parceria entre o bibliotecário e o professor. As visitas ao ambiente biblioteca não devem ser vistas como penalidade e sim como um momento motivador, de curiosidade e investigação. O bibliotecário quando aliado ao pedagogo e, conseqüentemente, ao professor, pode promover o incentivo à leitura por meio de atividades integradas. Esta parceria deve ser livre de repressões, visando o sucesso do grupo, pois o incentivo à leitura deve ser tratado em conjunto com as etapas de aprendizagem. Fazse necessário que haja essa integração para que se construa uma geração que saiba investigar e construir conhecimento por meio de seus próprios conceitos, formados pela leitura estimulada já na escola. Versando sobre esse tema, Côrrea e Souza (2004) ressaltam: A necessidade de uma parceria educador/bibliotecário através, de um trabalho conjunto, visando o fortalecimento da biblioteca escolar e a construção de novos caminhos para esta importante instituição, fica também evidenciada na declaração encontrada no Manifesto da UNESCO sobre as bibliotecas escolares: ‘está comprovado que quando bibliotecários e professores trabalham em conjunto, os estudantes alcançam níveis mais elevados de literacia, leitura, aprendizagem, resolução de problemas e competências no domínio das tecnologias de informação e comunicação.’ Uma parceria, entretanto, não se constrói da noite para o dia. Historicamente não se reconhece, no Brasil, uma unidade entre educadores e bibliotecários, e talvez esta seja uma das principais causas do abandono a que estão confinadas as bibliotecas escolares. Por outro lado, a construção desta parceria parece ser possível através de um trabalho a longo prazo, com início na base formativa destes profissionais, isto é, dentro das universidades. Andrade (2003) relata que uma pesquisa realizada pela Universidade de Denver, nos Estados Unidos, observou que os estudantes de escolas que mantêm programas de bibliotecas eficientes aprendem mais e obtêm melhores resultados do que alunos de escolas com bibliotecas deficientes. Outros resultados favoráveis que foram identificados referem-se ao tempo de permanência do aluno na escola, à diminuição do número de alunos por classe, às avaliações mais 727 freqüentes e, principalmente, ao melhor aproveitamento dos estudantes, independentemente da classe social e econômica da comunidade onde a escola está inserida. Analisando este cenário, pode-se elaborar maneiras de dinamizar as bibliotecas escolares através de atividades que integrem conceitos multidisciplinares, relacionadas ao currículo escolar, que proporcionem interação e cooperação entre bibliotecários, professores e estudantes. Como objetivos fundamentais para o efetivo desenvolvimento dessas atividades, levantase: a) estimular o gosto e o interesse pela leitura como fonte de informação e recreação; b) fortalecer o gosto pela leitura e escrita como fonte de desenvolvimento pessoal e social; c) estimular as artes como forma aglutinadora para familiarizar o público infantil com a biblioteca; d) aumentar o gosto pela leitura nas crianças; e) ampliar o público leitor; f) integrar as atividades culturais nas ações do ensino formal. Algumas atividades que podem ser implantadas, sempre pensando na interação entre biblioteca e corpo docente, são: sessões de contação de histórias; oficinas de leitura, oficinas de fabricação de jornais e livros (de pano, de recortes etc.); semana do livro (infantil, juvenil, poesia etc.), xadrez; cinemateca; encontro com escritores; montagem de murais temáticos; teatro de fantoches; exposições, entre outras. A leitura de vários tipos de texto é essencial na sociedade em que vivemos. Saber ver uma imagem, um filme, é tão necessário quanto aprender a ler e escrever nos moldes convencionais, pois os códigos e os processos de produção da comunicação se alteram e, nessas mudanças, buscam receptores aptos para atendê-los. Se o modo de produção se altera, fazendo surgir novos códigos, ele irá exigir uma nova posição receptiva; o mesmo valendo para a alteração da percepção, que exigirá novos códigos no processo de produção. A partir do momento em que se está exposto a um mundo cheio de linguagens diversas, temos de nos preparar para atender criticamente o que elas nos oferecem: interpretar, produzir e reproduzir. Cabe à escola explorar e trabalhar o cruzamento dessas linguagens, a fim de prepara melhor o aluno para enfrentar as novas realidades geradas pelos meios de comunicação. 728 O cinema se ajusta a um trabalho pedagógico que busca a interação e o aperfeiçoamento do aluno na leitura de novos códigos. Desenvolver um trabalho com imagens é estar em constante busca interativa com a sociedade em que vivemos. É ter consciência de que uma comunicação não se esgota no verbal e que a cada dia temos os nossos sentidos estimulados para captar novos códigos e novas mensagens. A biblioteca escolar precisa definir sua estratégia de administração e gerência para produzir, divulgar, mostrar, oferecer e distribuir corretamente serviços de informação. A sua imagem frente ao seu público também deve ser trabalhada cuidadosamente, a fim de criar condições de simpatia e respeito pela instituição e por sua função social, pelo trabalho do bibliotecário ou professor e, ao mesmo tempo, estimular a participação da comunidade, ampliando essa vivência coletiva. Não existe meio, método, fórmula ou suporte técnico único para a criação de um ambiente favorável à leitura. Pode ser um livro, um sorriso, uma música, uma idéia. O acesso à biblioteca deverá levar o usuário ao encontro de novas idéias que lhe darão a possibilidade de se renovar, se informar ou, simplesmente, desfrutar sua experiência frente a uma nova informação. Está comprovado que o encanto contido no acesso tanto a novas idéias quanto ao domínio de conhecimentos, serviços e recursos disponíveis, ou mesmo a abertura a maiores fantasias, são peças fundamentais para que o indivíduo, não importa sua posição social, assuma um papel participativo. Conquistar, ocupar e aprender a manter o espaço que lhe corresponde requer uma boa dose de criatividade, fator indispensável ao desenvolvimento de qualquer instituição. Essa criatividade precisa ser estimulada em todas as pessoas que participam de processos de administração, planejamento e execução de atividades ou programas da biblioteca. O ambiente de trabalho da biblioteca deve estimular cada colaborador a sentir-se responsável por novas idéias e melhorar tanto a qualidade dos serviços oferecidos quanto o contexto institucional. Cumpre ressaltar que para cumprir adequadamente suas funções e atender aos seus objetivos, a biblioteca escolar não pode ser vista como uma instituição independente. Ela deve estar integrada ao planejamento e ao projeto pedagógico da escola, para assim expressar a concepção educacional adotada pela instituição onde está inserida.

(PARTE DO ARTIGO)

FONTE/LINK: