domingo, 18 de junho de 2017

SABER OUVIR É A GRANDE QUESTÃO

O senso comum diz que um bom professor é aquele que sabe falar. Nas licenciaturas, nos ensinam a planejar as falas com cuidado e a nos apresentar bem diante de outras pessoas. Passamos grande parte do tempo estudando em profundidade uma área do conhecimento para discorrer sobre ela com clareza e precisão. Pouco aprendemos sobre ouvir os alunos e, no entanto, essa é uma parte fundamental da nossa atividade por pelo menos três razões:
  • Escutar permite entender o que o outro pensa.
  • A escuta atenta é um dos poucos instrumentos disponíveis para avaliar se o que estamos propondo faz sentido para a turma.
  • Ao abrir espaço para que os alunos se coloquem, compartilhamos com eles a responsabilidade pela aula.
A participação e o engajamento dos estudantes animam as discussões, tornando a aula muito mais produtiva do que aquelas em que só se ouve a voz do professor. Mas, para chegar nesse ponto, existem obstáculos a remover. Para começar, é natural os alunos se expressarem de modo meio confuso e impreciso. Em meio ao burburinho da classe, só para entender o que o outro quer dizer, é preciso prestar muita atenção. Além disso, na minha experiência, os estudantes têm dificuldade em ver utilidade na fala dos colegas. Na maioria das vezes, a ignoram. Na “era do fone de ouvido” em que vivemos, essa “surdez” é ainda maior.
E não há como negar as questões de ordem prática: em uma sala com trinta ou quarenta alunos, dá para ouvir quantos? Como fazer para que não sejam sempre os mesmos? Que estratégias usar para que a escuta gere aprendizagem para todos?
Um colega professor tem conseguido ótimos resultados com suas turmas e meu deu uma dica simples e importante. Você deve deixar claro para os alunos que suas intervenções serão valorizadas e ampliadas para toda a classe. Assim que o estudante fizer uma colocação, cabe ao professor reformular a frase e pedir para que ele ou ela confirme se é aquilo mesmo que tem em mente. Esse docente aponta que, de início, os alunos imaginavam que o diálogo era restrito a quem fazia a pergunta e o professor. Mas, depois que tomou a fala dos estudantes como ponto de partida para as discussões, ele criou, de fato, um ambiente de escuta. Quando os alunos notam que suas falas são levadas em consideração, elas aumentam de qualidade e se estabelece um diálogo genuíno.
De um lado, o professor precisa ser mais flexível, pois embarcar na linha de raciocínio dos estudantes pode gerar mudanças no plano de aula. Por outro, ele não deve deixar a discussão à deriva, o que o faria perder de vista seus objetivos. Em outras palavras, é preciso ter clareza de onde se quer chegar, mas levar a escuta a sério é decisivo para envolver os alunos na aprendizagem e sinalizar, para todos, qual o melhor caminho a seguir.

Felipe Bandoni