sábado, 13 de janeiro de 2018

COMO PRIORIZAR A GESTÃO ESCOLAR

Pare e pense em um polvo. Esta é ou não uma excelente metáfora para a figura do gestor escolar (e para a gestão escolar )? Embora não faça o trabalho sozinho, pois pode contar com uma equipe, precisa conhecer e acompanhar todos os processos.
Haja braços, não é mesmo?
É um profissional que desdobra-se tendo o aspecto pedagógico como foco principal, mas que não pode desvinculá-lo da engrenagem administrativa. Mas manter o equilíbrio entre ambas as áreas é um dos seus grandes desafios.
A complexidade da sua função e a alta demanda pela sua atenção podem induzir a um grave equívoco: ficar muito absorvido pela parte burocrática e, por isso, diminuir as vistas à atividade fim. Ou seja, a educação.
Cada vez mais, afortunadamente, a gestão escolar vêm recebendo a atenção e a importância que merece. Para sabermos um pouco mais sobre esse universo, fomos conversar com a  doutora em Educação e coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão Educacional da Unisinos, Viviane Klaus. Acompanhe.

A multifacetada função do gestor educacional

Confira entrevista coordenadora do Mestrado em Gestão Educacional da Unisinos, Viviane Klaus.

·          Diário Escola – O que é gestão escolar?

Dra. Viviane Klaus – A gestão escolar tem como principais desafios a condução político-pedagógica e econômico-financeira da instituição de ensino. Faz parte do seu  trabalho, que deve se pautar em uma construção coletiva,compreender os desafios do processo de escolarização na contemporaneidade a partir das novas relações espaço-temporais. Algumas perguntas norteadoras para a gestão escolar poderiam ser: que sujeitos queremos formar?
Como responder aos desafios contemporâneos sem uma simples “adequação” a alguns pressupostos do nosso tempo?Ou seja, como formar crianças e jovens críticos capazes de conviver neste tempo histórico/social e de contribuir com o bem comum?

·          Há diferença entre gestão e administração escolar? Quais são e por quê?

O termo “gestão escolar” emergiu no decorrer dos anos 1980, após a reaberturademocrática no País. Vários autores da área da educação problematizaram a administração baseada em um modelo fabril (hierárquico, burocrático, linear e altamente disciplinar) e defenderam a construção de processos de gestão democrática (participação dos diferentes segmentos da comunidade escolar: pais, professores, alunos, funcionários).
O trabalho de uma equipe diretiva (diretor/gestor escolar e coordenação pedagógica) deveria se dar a partir da indissociabilidade entre teoria e prática, do binômio administrativo-pedagógico, bem como da construção coletiva de um projeto formativo. Portanto, ter clareza do projeto educativo da instituição escolar é fundamental, pois tal projeto pautará as concepções de gestão adotadas.

·          É correto dizer que o diretor da escola é o gestor?

Sim. Porém, a equipe diretiva da escola, ou a equipe gestora, é composta por outros membros além do diretor/gestor. Tal composição depende muito das estruturas institucionais, mas eu destacaria a parceria entre diretor/gestor e a coordenação pedagógica como essencial.

·          Que eixos norteadores de gestão um diretor deve ser capaz de aplicar em sua escola?

 Pode-se destacar os seguintes eixos norteadores do trabalho do gestor escolar:
– articulação com os demais membros da equipe diretiva (coordenação pedagógica);
– diagnóstico e análise de cenário (análise do contexto dos sistemas educacionais no Brasil);
– planejamento e condução político-pedagógica (parceria permanente com a coordenação pedagógica da instituição);
– elaboração, implementação e avaliação de projetos como forma de organização da ação administrativa e pedagógica;
– desenvolvimento de uma gestão participativa, colegiada e sustentável (gestão de pessoas, do conhecimento, da comunicação e econômico-financeira-peagógica);
– estudo da avaliação externa e da avaliação institucional como perspectivas de gestão educacional;
– postura reflexiva, com possibilidade de constituir-se um profissional que tem a pesquisa como base do seu trabalho e do desenvolvimento de processos de formação continuada do corpo docente).

- Quais os principais problemas enfrentados pelos gestores de escolas privadas no Brasil?

Eu diria que os principais problemas enfrentados estão relacionados a pressões externas de diferentes ordens, entre as quais destaco:
– avaliações externas e rankings educacionais que promovem uma competitividade entre as instituições;
– aferições de “qualidade educacional” que têm passado prioritariamente pela linguagem empresarial e pelo “imperativo da inovação”, de modo que as famílias e alunos, por vezes, adotam uma postura muito voltada para o atendimento de demandas de “clientes”;
– alargamento das funções da escola na contemporaneidade. Isso não significa ignorar as possibilidades de gestão a partir dos indicadores das avaliações externas, bem como a importância da inovação no cotidiano escolar e da escuta das famílias e dos estudantes.
Porém, um projeto educacional está diretamente relacionado com o estudo das intencionalidades pedagógicas que passam pelo binômio tradição/inovação. A profissionalidade docente, que se pauta nos saberes específicos, nos saberes da experiência e nos saberes pedagógicos, precisa ser realimentada em tempos nos quais circulam “soluções” de todas as ordens na área da educação sem um conhecimento do campo propriamente dito.

·          Há uma tendência de o gestor escolar priorizar os aspectos administrativo e financeiro em detrimento ao pedagógico? Como não deixar isso acontecer?
Sim, sem dúvida. E para que isso não ocorra é preciso ter clareza dos pressupostos educativos do Projeto Político-Pedagógico da escola (pano de fundo). A parceria entre o gestor escolar e a coordenação pedagógica é essencial. A compreensão do trabalho coletivo desenvolvido na escola como espaço de formação continuada dos docentes é um eixo norteador importante para que não haja uma separação entre administrativo e pedagógico. Essa articulação permanente entre teoria/prática e a pesquisa como um princípio de todos os processos educativos desenvolvidos pode trazer contribuições importantes na (re)invenção das práticas pedagógicas.