Algumas
reflexões sobre os novos e fundamentais papéis que os profissionais da
informação — em especial o(a)s bibliotecário(a)s escolares — devem assumir na
Era Digital.
Que perfil deve ter, hoje, um(a) bibliotecário(a) escolar?
Não é segredo para ninguém que, nos últimos anos,
as bibliotecas estão sendo obrigadas a se reinventarem à medida que o conteúdo
se torna mais acessível on-line e o papel dessas bibliotecas se torna menos
relacionado a armazenar livros, e mais direcionado a conectar leitores e
construir conhecimentos. As bibliotecas já não são mais lugares restritos aos
livros.
O papel das bibliotecas escolares muda
drasticamente na Era Digital. Assim, como muda o papel dos bibliotecários
escolares. Nos últimos anos, eu tenho interagido com muitas escolas e
bibliotecários escolares aqui no Rio de Janeiro. Pelo que tenho observado, os
desafios desses profissionais tendem a aumentar consideravelmente daqui pra
frente. Não deve ser diferente em outras cidades brasileiras.
Trata-se de um momento de mudanças radicais: o
papel do bibliotecário escolar deverá combinar as atuações de um especialista
da informação com o de um agente (importante) da integração — dentro das escolas — de diversas tecnologias emergentes. Portanto, a
ansiedade no ambiente das bibliotecas escolares não tem sido pouca. Sabemos também, que em
termos legais, a biblioteca escolar no Brasil é agora equipamento obrigatório.
O problema é maior do que apenas estabelecer uma
biblioteca escolar (que muitas escolas, surpreendentemente, ainda não possuem).
O problema real das escolas e, naturalmente, das bibliotecas escolares é o da
readaptação a uma nova realidade.
Eu que trato de leitura e tecnologia diariamente — porque há 3 anos, logo depois de editar a coleção de clássicos da
literatura brasileira para o Google Brasil, imaginei uma biblioteca de clássicos da
literatura brasileira, exclusivamente digital, para atender principalmente
professores e alunos, a Biblioteca Cidade
Livro, que conseguimos concretizar este ano — não tenho dúvidas:
Na era da informação e do
conhecimento, o papel dos novos bibliotecários cresce em função,
responsabilidade e importância. O bibliotecário é um profissional da
informação, logo, seu papel não pode estar restrito apenas aos livros. A
“biblioteca” está em todos os lugares. A “biblioteca” é o mundo.
Esse é, a meu ver, o perfil (amplo e conectado) do
novo bibliotecário que as bibliotecas escolares precisam. Aliás, as bibliotecas
escolares (qualquer biblioteca, enfim) deve ir aonde o leitor está. Ela também
deve se “virtualizar”, se expandir, estar disponível (on-line) quando e onde
quer que o leitor dela precise.
O perfil do novo bibliotecário: um exemplo caseiro
Quero dar um exemplo desse(a) novo(a) profissional.
Um exemplo de dentro de casa. Eu tenho uma filha que na adolescência era “beta
reader” de uma comunidade brasileira (importante) de FanFics.
Anos mais tarde, ela decidiu cursar Biblioteconomia (e Ciências da Informação),
fortemente influenciada por essa experiência de leitura constante em meios
digitais.
Não parou aí. No trabalho de conclusão de curso,
ela escolheu como tema analisar a usabilidade das hemerotecas digitais da Bibliotecas Nacionais
do Brasil, Espanha e França. (Este trabalho foi também apresentado no
XXVI CBBD — Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação 2015.)
Agora ela é a minha principal colaboradora no
projeto da Biblioteca Digital
Cidade Livro. Observando minha filha, uma jovem bibliotecária
totalmente “tecnológica”, eu concluo que…
Os novos profissionais da
biblioteconomia e da ciência da informação são (e serão cada vez mais) fortemente
influenciados pelas tecnologias digitais e sociais. A tecnologia fará parte do
dia a dia desses profissionais. A tecnologia será sua mais forte aliada.
Especificamente, no âmbito das bibliotecas
escolares, essa é uma característica essencial para se conseguir estimular a
leitura nos mais jovens, porque é notório que os dispositivos eletrônicos e
digitais e as mídias sociais já fazem parte irreversivelmente da vida de alunos
e professores.
Não se trata aqui, quero
lembrar, de uma falaciosa guerra entre livros versus tecnologia.
Muitos professores (e bibliotecários mais antigos),
infelizmente, pensam assim. Estão errados. É justamente o contrário: é
necessária (e bem-vinda) uma integração de ambas as plataformas a favor do
leitor. Eu me arrisco a dizer que os bibliotecários, esses profissionais da
informação, precisam se adequar a essa realidade, porque essa nova visão lhes
proporcionará, inclusive, novas e interessantes oportunidades profissionais.
Os bibliotecários mais
jovens, os millennials (Geração Y) — e, logo, logo, os da Geração Z — , por terem crescido no meio dessa revolução, já possuem um perfil mais adaptável a essas novas necessidades.
Uma das funções da biblioteca escolar é ensinar o
aluno a pensar, refletir, questionar. Não se vive mais em um mundo
“tradicional”. Não é somente os softwares que hoje sofrem atualizações
sistemáticas, muitos dos nossos conceitos também estão passando por drásticas
atualizações.
É preciso aprender a ler o mundo, aconselhou o escritor e professor Affonso Romano
de Sant’Anna em sua palestra no primeiro fórum do Plano Municipal do Livro e da Leitura
do Rio de Janeiro — grupo do qual sou um dos membros titulares e que
está atualmente pensando e definindo uma política para o livro, leitura e
bibliotecas na cidade do Rio de Janeiro.
Enfim, o tema é longo e amplo, mas essas são
algumas reflexões que eu gostaria de compartilhar com vocês hoje:
·
A biblioteca escolar é um
espaço cultural.
·
É também um organismo vivo.
·
Os bibliotecários (escolares)
precisam compreender que eles mesmos precisam aprender a aprender. Precisam ser
(obrigatoriamente) mais tecnológicos.
·
Precisam ser dinâmicos,
conectados, porque o próprio livro e a leitura (e os leitores, obviamente)
estão passando por profundas mudanças.
·
Claro, que esses
bibliotecários também precisam ser eruditos. Precisam gostar de ler. Não
consigo conceber bibliotecários que não leem, que não conheçam profundamente
seu acervo, que não sejam, eles mesmos, exemplos de incentivo à leitura.
Os novos bibliotecários não podem se contentar em
ser apenas catalogadores. Precisam ser consultores para professores e gestores
escolares. Afinal, são esses bibliotecários que possuem a “chave” de um
“tesouro”, o acesso especializado ao imenso “banco de dados” de conhecimento e informação
que é a própria biblioteca escolar.
Quanto mais a biblioteca conhece seus leitores,
mais ela conseguirá atendê-los bem, com eficiência e eficácia. De que forma
isso é possível hoje? Com a internet, claro, com as mídias sociais sendo
integradas ao dia a dia das bibliotecas, com os dispositivos móveis.
Integrando bibliotecas e tecnologias digitais e sociais
Professores e bibliotecários, no âmbito das
bibliotecas escolares, podem e devem estimular seus alunos a experimentarem o
acervo, propondo tarefas que envolvam integração desse acervo com as
tecnologias digitais e sociais:
1.
Criem o
blog da biblioteca (uma publicação
no Medium em
Português, por exemplo) e peçam que os alunos e professores
indiquem, em artigos especiais publicados no blog, suas sugestões de leitura. O
ideal é que os livros estejam, claro, disponíveis na biblioteca da escola.
2.
Tenham
presença ativa nas mídias sociais (Twitter, Instagram, Medium, Facebook, Pinterest, etc). Estimule
os alunos a seguirem o perfil da biblioteca nas mídias sociais.
3.
Criem
coleções temáticas. Esse mês de
outubro, além do “Dia Nacional da Leitura”, também registra o aniversário da
Biblioteca Nacional e várias outras efemérides que podem inspirar a criação e
disponibilização de coleções temáticas de livros que façam parte do acervo da
escola.
4.
Organizem
visitas guiadas às principais bibliotecas de sua cidade. Se você mora na cidade do Rio de Janeiro, visite a
Biblioteca Nacional, as Bibliotecas Parque (excelentes) e a Biblioteca
Acadêmica da Academia Brasileira de Letras. Será uma oportunidade especial para
se falar do valor que os livros e à leitura proporcionam a todos nós.
5.
Trabalhem
com os recursos tecnológicos que essas bibliotecas oferecem na internet. A hemeroteca digital da Biblioteca
Nacional, por exemplo, é um recurso educacional espetacular.
6.
Ah, e não
deixem de acessar a minha Biblioteca Digital
Cidade Livro, onde disponibilizamos, gratuitamente, acesso às
principais obras clássicas da literatura brasileira. Se você for da cidade do
Rio de Janeiro, entre em contato e agende uma visita. Eu faço questão de ir à
sua escola (temos uma palestras especial sobre o tema) e tratar desses assuntos
tão interessantes com seus bibliotecários e professores.
FONTE:
MEDIUM.COM