Quando o coordenador assume o
posto, logo percebe que é difícil lidar com as pessoas, respeitar as diferentes
opiniões e sugerir mudanças sem ser autoritário. Pedimos aos internautas que
enviassem suas questões sobre a parceria de coordenadores e, para ajudar a
resolvê-las, ouvimos consultores especialistas no assunto
1. Como
posso legitimar meu papel de formador junto aos professores? Afinal, até há
pouco tempo, eu estava em sala de aula como eles.
Durante anos, você cuidou somente da sua sala de
aula, tentando resolver os problemas de aprendizagem da turma e procurando a
melhor maneira de ensinar. Mas aí surgiram um concurso, uma seleção interna da
Secretaria de Educação para o cargo de coordenador pedagógico ou você foi
convidado para liderar a equipe docente. Você, claro, aceitou o convite ou
se inscreveu no processo de seleção.
Em uma posição hierarquicamente superior, logo
percebe como é complicado lidar com a equipe, aprender a ouvir para compreender
os problemas, respeitar os pontos de vista diferentes nas reuniões, usar as
diversas opiniões para chegar a um consenso, mediar conflitos sem ferir
suscetibilidades, liderar sem ser arrogante e sugerir mudanças sem ser
autoritário.
A pesquisaO Coordenador Pedagógico e A Formação de Professores: Intenções, Tensões e Contradiçõesmostra que dúvidas sobre como lidar com a equipe são comuns e 20% dos entrevistados apontam questões de gestão como um dos principais problemas enfrentados no dia a dia.
No entanto, são os seus conhecimentos didáticos que vão fazer com que a equipe o aceite como o parceiro mais experiente, do qual vai receber orientações e no qual pode confiar. Para isso, é urgente ir atrás desses saberes e se preparar para o cargo. É possível requisitar formação específica junto à Secretaria de Educação e procurar leituras que ampliem o seu universo nas didáticas de todas as áreas do conhecimento.
A pesquisaO Coordenador Pedagógico e A Formação de Professores: Intenções, Tensões e Contradiçõesmostra que dúvidas sobre como lidar com a equipe são comuns e 20% dos entrevistados apontam questões de gestão como um dos principais problemas enfrentados no dia a dia.
No entanto, são os seus conhecimentos didáticos que vão fazer com que a equipe o aceite como o parceiro mais experiente, do qual vai receber orientações e no qual pode confiar. Para isso, é urgente ir atrás desses saberes e se preparar para o cargo. É possível requisitar formação específica junto à Secretaria de Educação e procurar leituras que ampliem o seu universo nas didáticas de todas as áreas do conhecimento.
2. Como
fazer para receber bem o professor novato e integrá-lo ao grupo?
Antes de mais nada, é preciso apresentá-lo aos
futuros colegas, demais membros da equipe gestora e funcionários.
Certamente, no início ele vai demandar mais atenção de você, por ser
recém-formado, por ter mudado de segmento ou, ainda, por ter vindo de outra
unidade e precisar de um tempo para se entrosar. Vale marcar uma reunião
individual para falar sobre a instituição e apresentar o perfil dos alunos com
os quais vai trabalhar. Nesse encontro, mostre o projeto
político-pedagógico (PPP) e os planos de trabalho e deixe explícitas as metas
da escola. Você pode sugerir ao novato que, logo na primeira
semana, faça um diagnóstico da turma e utilize essas informações como apoio
para elaborar o planejamento. Coloque-se à disposição para ajudá-lo nessa
tarefa.
Outra medida interessante, quando se tem um grupo
heterogêneo de professores, é articular para que os mais experientes ajudem na
adaptação dos recém-chegados por um tempo, como se fosse um tutor, para tirar
as dúvidas pontuais.
3. De
que maneira posso ajudar o professor que tem dificuldade em comunicar um
conteúdo?
Ele deve se sentir inseguro com o conhecimento que tem
sobre os conteúdos ou a didática. Para um bom desempenho, ele vai precisar,
além de dominar a disciplina, entender o aluno e o modo como ele aprende. Os
momentos de formação continuada individuais na escola são o espaço ideal para
trabalhar dificuldades específicas e buscar recursos para ampliar o
quadro de referências e as estratégias de ensino.
Às vezes, porém, não é só um professor que tem de
repensar a sua prática didática de forma a despertar o interesse da classe, mas
todo o grupo. Aí vale levar o tema para os horários coletivos de formação.
4. Como lidar com a resistência de alguns professores
às mudanças propostas?
Primeiro, vamos
procurar entender o outro lado: os professores se queixam de que se veem
obrigados a aceitar rupturas metodológicas bruscas, tendo de deixar de lado
tudo o que acreditam para adotar uma nova linha de trabalho. Você, por sua vez,
sabe que é uma das peças-chave para a implantação das políticas públicas da
rede, que costumam mudar à velocidade com que um novo secretário assume a
pasta. Seja qual for a situação, nem sempre é fácil fazer com que um professor
deixe de lado a maneira como sempre ensinou e aceite as mudanças imediatamente.
Agora a sua parte:
é fundamental não ter pressa. Implante, aos poucos, um processo de
estudo permanente na escola, no qual se constroem coletivamente as respostas
para os problemas que forem surgindo. Só assim as transformações farão
sentido e não representarão uma mera imposição - ou mesmo ameaça - ao trabalho
que já é realizado. ''Quando a equipe toda pensa e reflete em conjunto, é mais
fácil assumir novos conhecimentos'', afirma Ecleide Cunico Furlanetto,
professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Cidade de
São Paulo (Unicid).
5. Um professor vive encaminhando os alunos
indisciplinados para mim. O que devo fazer?
Na ausência de um
orientador educacional na escola, é comum que o coordenador assuma essa função.
Se é esse o seu caso, deixe claro ao docente que ele não pode
simplesmente achar que não tem nada a ver com isso e que o papel dele
é ajudar a identificar as causas dos comportamentos inadequados e como lidar
com eles. ''Se o problema persistir, vale organizar uma reunião com as equipes
gestora e docente para que, juntas, pensem na melhor forma de solucionar a
questão'', afirma Sofia Lerche Vieira, da Universidade Estadual do Ceará (UEC).
6.
Como fazer para integrar um professor que não
tem um bom relacionamento com os colegas?
Cada escola tem uma cultura, com regras que devem ser
seguidas por todos, mas que nem sempre são suficientemente divulgadas. Se o
grupo é coeso e se conhece há bastante tempo, será mais exigente para aceitar
alguém, principalmente quando ele tem atitudes e comportamentos diferentes dos
demais. Pode ocorrer ainda de os conflitos serem fruto da insegurança de um
educador. O principal é que o coordenador
desenvolva rapidamente uma relação de confiança entre os docentes para que todos se sintam à vontade
para partilhar suas experiências e dúvidas.
7.
O que fazer para evitar a alta rotatividade
dos professores?
Vários são os motivos para um docente mudar de escola: o
salário, a localização, os recursos disponíveis, o perfil da instituição etc.
Essa movimentação - quando excessiva - causa mesmo desânimo nos coordenadores,
que ficam com a sensação de começar do zero sempre. ''Até que a coordenação
consiga se aproximar e estabelecer uma relação de confiança, muitos professores
já se foram'', comenta Ecleide. Tornar a escola um espaço
acolhedor e favorável à aprendizagem é uma boa maneira de atrair e fidelizar o
educador. Se ele vê que a equipe gestora é engajada e que ali
existe um projeto diferenciado, sentirá mais segurança e interesse em
permanecer.
8.
O que fazer com os docentes que faltam muito?
É importante conhecer os motivos das faltas. Para isso,
só há um jeito: conversar com o professor. Se ele estiver com problemas de
saúde, aconselhe-o a procurar o atendimento médico. Mesmo assim, é bomficar atento para detectar se as
condições de ensino não têm relação com o mal-estar ou com a desmotivação.
Se a causa não for facilmente perceptível, vale lembrar o
professor sobre a importância dele na sala de aula e o problema que causa
quando não comparece à escola, pois mexe com toda a organização e a rotina.
Além do mais, é bom recordá-lo de que, se ele não tem assiduidade, não chega no
horário e não cumpre com suas obrigações, não poderá cobrar isso dos alunos. É,
aliás, um momento oportuno para discutir com a equipe os direitos e deveres de
cada um.
9.
Gostaria de acompanhar o trabalho em sala de
aula para ser um bom formador, mas não quero parecer um fiscal. Como agir?
É fundamental ter consciência de que você é o parceiro
mais experiente e tem o dever de intervir quando necessário. Isso o faz
corresponsável pelo trabalho do professor - que, por sua vez, precisa saber que
você está ali para contribuir com o trabalho dele. Assim, fica mais fácil
compreender que a sua intervenção é sempre para ajudar - e não para fiscalizar.
"O compromisso de todos tem de ser com os alunos, que precisam
aprender", diz Ecleide Furlanetto.
O
principal é que o coordenador tenha clareza de sua obrigação com a escola, com
o projeto político-pedagógico e com a aprendizagem,
não se deixando se intimidar por cara feia ou resistência da equipe.
10.
O que fazer com os docentes que só reclamam
do trabalho?
Sinais de carência, como queixas e desabafos constantes,
revelam, muitas vezes, a falta de confiança no trabalho realizado. ''A
expectativa de que o coordenador sirva como um ombro amigo, seja compreensivo e
ajude a resolver todos problemas pode ser um indicador de que o docente está se
sentindo sozinho'', diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora e
professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Num primeiro momento, o melhor é
se mostrar acolhedor e ouvir o que o outro tem a dizer.
Ao mesmo tempo, é importante fazer o
acompanhamento do trabalho em sala de aula, sugerindo que o
docente localize o que o deixa inseguro, se tem a ver com o conhecimento sobre
conteúdo, com o planejamento - ou a falta dele - da aula ou se são dificuldades
de relacionamento com os alunos, os pais ou mesmo os colegas.
Outra medida válida é promover a troca de experiências
entre os colegas para
mostrar que todos enfrentam dificuldades, criando, assim, uma relação de
proximidade. Também é preciso levar em conta que talvez a formação não esteja
atendendo às necessidades da equipe. É hora então de rever o seu trabalho e até
pedir ajuda a supervisores da Secretaria.
FONTE: http://gestaoescolar.org.br/conteudo/469/10-duvidas-sobre-o-relacionamento-entre-coordenador-pedagogico-e-professor